quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A carta

O Publico resolveu hoje publicar uma carta enviada por Pedro Passos Coelho enquanto líder do PSD a José Sócrates, então Primeiro-ministro, no ano de 2011, onde Passos manifesta apoio “ao recurso a meios financeiros externos”, entenda-se, apoio à subscrição de um resgate financeiro.

A pré campanha eleitoral de 2015, continua assim marcada pela polémica da vinda da troika e focada em 2011. Obviamente que tudo isto interessa mais à coligação do que propriamente ao PS. Enquanto se ocupa o espaço mediático com o que se passou em 2011, coloca-se ao mesmo tempo a memória do eleitorado na governação Sócrates e esquece-se a governação dos últimos 51 meses. Surge agora esta carta e quem a ler irá ficar com a ideia de que o então líder do PSD, teve uma atitude responsável, mostrando preocupação com o estado do país e apoiando o Governo na formulação de um pedido de ajuda externa.

Acontece que à data desta carta, o PSD, juntamente com os restantes partidos políticos com assento parlamentar, já tinham chumbado o PEC IV provocando em consequência disso a demissão do Governo. Perante isto, não restava outra alternativa, porque a crise dos mercados estava na altura em pleno auge, fazendo mossa dia após dia nas dívidas soberanas da maioria dos Estados Europeus. 

O PS nunca soube desmistificar esta situação. É verdade que foi o Governo na altura em funções que formalmente accionou o pedido de assistência financeira. Não poderia, ser de outra forma. Mas quem precipitou a crise política e motivou esse pedido de assistência, foi o então líder do PSD e agora Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, conforme Teixeira dos Santos, voltou a admitir num artigo de opinião, este domingo no JN.

A situação resolver-se-ia com a aprovação do PEC IV? Não se resolveria, como é óbvio, mas ganhar-se-ia algum tempo. O tempo que Espanha soube prudentemente aproveitar, enquanto as instâncias europeias ainda se estavam a debater com o problema das dívidas soberanas, procurando a melhor forma de contornar a situação. Veja-se que só em 2012, os mercados acalmaram, após entrada em vigor do mecanismo europeu de estabilidade, ratificado por todos os 17 estados-membro da zona Euro.

Concluindo, como o PS nunca soube desmistificar esta questão durante estes últimos 4 anos e 3 meses também não será agora em 15 dias que o vai conseguir fazer. Assim sendo, esta polémica apenas interessa à actual coligação, porque coloca o centro do debate na governação Sócrates e não na governação Passos/Portas.

O ruído e a confusão parecem ser a tónica do debate político em Portugal.