terça-feira, 21 de julho de 2015

Muros

O exército Húngaro está a construir um muro com cerca de 4 metros de altura e que deverá ter uma extensão aproximada de 175 km ao longo da sua fronteira com a Sérvia, no sul do pais, para travar a pressão migratória que o país tem sofrido nos últimos anos, com a entrada de imigrantes ilegais que se destinam aos países da União Europeia.

A Hungria é portanto um ponto de passagem para a velha Europa, que apesar de tudo, ainda é o sonho para muitos homens, mulheres e crianças, oriundos de países que passam a vida em guerra como a Síria e o Afeganistão e não conhecem o sabor da vida em democracia.

Na Hungria a força dominante no Parlamento é um partido de direita, pragmático e populista, liderado por Victor Órban, o actual Primeiro-Ministro. São conhecidas as suas posições extremistas, especialmente no que concerne à imigração.

Também na Bulgária, ao longo da sua fronteira com a Turquia foi erguido um muro que já leva cerca de 30 km de construção, que não devem ficar por aqui, pois a fronteira entre os dois países estende-se ao longo de cerca de 250 km.

Na nossa memória ainda flutuam as imagens da tragédia de Lampedusa, ocorrida há cerca de 2 anos, onde dezenas de imigrantes africanos perderam a vida num (mais um) naufrágio, ao tentarem alcançar a costa Italiana.

O mediterrâneo está transformado num autêntico cemitério de gente que morre em busca de paz e de pão. Gente que parte com esperança e que enfrenta o horror no meio da viagem. Grávidas, crianças, adolescentes, homens e mulheres, que sendo interceptadas pelas patrulhas, nada mais lhe resta do que trabalho quase escravo nas decadentes economias locais africanas. Os que tem a sorte de chegar a bom porto, quando pisam solo europeu, enfrentam outras batalhas. Fogem às autoridades, são explorados por patrões sem escrúpulos que conhecendo a sua situação frágil usam e abusam da sua dignidade.

A questão da imigração é uma questão política, extremamente delicada e complexa. Não tem certamente uma resolução fácil, especialmente numa altura em que o terrorismo tem ganho dimensão. Por outro lado, a Europa tem estado ensimesmada na sua crise financeira, faltando espaço para colocar na agenda política esta questão.

Não será com muros que isto se vai resolver. Os direitos humanos têm sido constantemente atropelados, mas o mundo parece indiferente. Volvidos quase dois anos da tragédia de Lampedusa, parece nada ter sido feito de concreto e a construção destes muros é prova disso.

O muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria, caiu há 25 anos. De então até hoje, a Europa tem construído pontes, abdicando de muros. Pontes na diplomacia internacional, na defesa e garantia dos direitos humanos, da liberdade e da democracia, na construção da paz. Acontece que a crise europeia que hoje se vive, a descrença nos políticos, a inexistência de lideranças políticas fortes e a agonia em que tem vivido a social-democracia abriu espaço ao populismo e ao discurso extremista, tanto à esquerda como à direita. Não admira que os muros, na falta de outras soluções, comecem a aparecer, nesta e noutras questões. Um dia destes, a Grécia está emparedada e Portugal, donde saíram mais 400 mil pessoas nos últimos 4 anos, terá o mesmo destino.