O exército Húngaro está a
construir um muro com cerca de 4 metros de altura e que deverá ter uma extensão
aproximada de 175 km ao longo da sua fronteira com a Sérvia, no sul do pais, para
travar a pressão migratória que o país tem sofrido nos últimos anos, com a
entrada de imigrantes ilegais que se destinam aos países da União Europeia.
A Hungria é portanto um ponto de
passagem para a velha Europa, que apesar de tudo, ainda é o sonho para muitos homens, mulheres e crianças, oriundos de países que
passam a vida em guerra como a Síria e o Afeganistão e não conhecem o sabor da
vida em democracia.
Na Hungria a força dominante no Parlamento
é um partido de direita, pragmático e populista, liderado por Victor Órban, o
actual Primeiro-Ministro. São conhecidas as suas posições extremistas,
especialmente no que concerne à imigração.
Também na Bulgária, ao longo da
sua fronteira com a Turquia foi erguido um muro que já leva cerca de 30 km de
construção, que não devem ficar por aqui, pois a fronteira entre os dois países
estende-se ao longo de cerca de 250 km.
Na nossa memória ainda flutuam as
imagens da tragédia de Lampedusa, ocorrida há cerca de 2 anos, onde dezenas de
imigrantes africanos perderam a vida num (mais um) naufrágio, ao tentarem alcançar
a costa Italiana.
O mediterrâneo está transformado
num autêntico cemitério de gente que morre em busca de paz e de pão. Gente que
parte com esperança e que enfrenta o horror no meio da viagem. Grávidas,
crianças, adolescentes, homens e mulheres, que sendo interceptadas pelas
patrulhas, nada mais lhe resta do que trabalho quase escravo nas decadentes
economias locais africanas. Os que tem a sorte de chegar a bom porto, quando
pisam solo europeu, enfrentam outras batalhas. Fogem às autoridades, são
explorados por patrões sem escrúpulos que conhecendo a sua situação frágil usam
e abusam da sua dignidade.
A questão da imigração é uma
questão política, extremamente delicada e complexa. Não tem certamente uma
resolução fácil, especialmente numa altura em que o terrorismo tem ganho
dimensão. Por outro lado, a Europa tem estado ensimesmada na sua crise
financeira, faltando espaço para colocar na agenda política esta questão.
Não será com muros que isto se
vai resolver. Os direitos humanos têm sido constantemente atropelados, mas o
mundo parece indiferente. Volvidos quase dois anos da tragédia de Lampedusa,
parece nada ter sido feito de concreto e a construção destes muros é prova
disso.
O muro de Berlim, símbolo da
Guerra Fria, caiu há 25 anos. De então até hoje, a Europa tem construído pontes,
abdicando de muros. Pontes na diplomacia internacional, na defesa e garantia
dos direitos humanos, da liberdade e da democracia, na construção da paz. Acontece
que a crise europeia que hoje se vive, a descrença nos políticos, a
inexistência de lideranças políticas fortes e a agonia em que tem vivido a social-democracia
abriu espaço ao populismo e ao discurso extremista, tanto à esquerda como à
direita. Não admira que os muros, na falta de outras soluções, comecem a
aparecer, nesta e noutras questões. Um dia destes, a Grécia está emparedada e Portugal, donde saíram mais
400 mil pessoas nos últimos 4 anos, terá o mesmo destino.