Hoje abro espaço para falar de
uma das minhas paixões, talvez, aquela que nunca conseguirei explicar de forma
racional, ou pelo menos, com predominância da razão sobre a emoção: o Sporting.
Desde miúdo que sou um fervoroso
adepto e apaixonado pelo clube que equipa com a camisola verde e branca. Os meus
ídolos de infância, são o grande capitão, Manuel Fernandes, que com Rui Jordão
e António Oliveira, formou o tridente atacante, que em 1982 nos concedeu o primeiro
triplete ou tripleta (palavra espanhola recentemente adoptada no universo lampião)
do futebol português. Campeonato, Taça de Portugal e Supertaça Cândido de
Oliveira, porque esta última, diz respeito à época anterior, ao contrário do
que alguns teóricos da bola quiseram fazer crer no fim-de-semana passado.
Manuel Fernandes, Joaquim
Agostinho, Carlos Lopes e Fernando Mamede, figuras mitológicas que venerei e
encarnaram em mim a verdadeira alma leonina, são o Sporting da minha infância. O
Sporting com que cresci e que acabei por transportar para o meu código de
valores e conduta. Esforço, devoção, dedicação e glória, eis o Sporting.
No Sporting, ao contrário de
outros clubes, não importa apenas vencer. Ganhar um jogo de futebol é
importante. Mas não é decisivamente o mais importante. Já tive cadeira em
Alvalade e sei do que falo. Além do mais, sendo transmontano, cresci a 500 km
dessa cadeira e quando lá me sentei durante uns bons anos, solidifiquei a ideia
que já tinha. Ganhar o jogo é importante, mas não a todo custo. A jogar mal, é
melhor ganhar do que perder, mas o que nós queremos mesmo é ver a equipa a
jogar bem. Deste clube já saíram os maiores craques de sempre do futebol português,
Figo e Cristiano Ronaldo. Em Alvalade, o público é pouco paciente, ao contrário
do que se possa pensar. Temos paciência para sofrer e aguentar ano após ano sem
conquistas. Mas não temos paciência para ver mau futebol. Muitas vezes perde-se
jogando bem, outras, ganha-se jogando mal. O mais importante é jogar bem, o
primeiro passo para que se ganhe, caso não haja mais factores a condicionar o
resultado, como as arbitragens.
Com a ajuda do arbitro, mesmo
quando eles se enganam a nosso favor é puramente detestável que isso aconteça,
sendo preferível a derrota do que um jogo ganho à custa do arbitro. Isto serve
para um jogo, para um campeonato, etc.
Carlos Lopes, Joaquim Agostinho,
Fernando Mamede, Naíde Gomes, Obikwelu, foram e são grandes campeões, sem ajuda
de árbitros. No futebol, também queremos que assim seja. Grande espectáculo e que ganhe quem marcar mais golos.
Infelizmente, não é assim que a
coisa funciona, porque o futebol transformou-se num dos negócios onde gira
muito dinheiro, poder e influência. E quando assim é, há muito mais em jogo, do
que a bola dentro das 4 linhas.
Não posso alongar-me mais, porque
o que eu queria mesmo era dizer algumas palavras sobre o novo treinador, Marco
Silva, ontem apresentado em Alvalade.
Ao contrário de Leonardo Jardim, Marco
Silva tem a fasquia demasiado alta no momento em que entra em Alvalade. Jardim,
encontrou uma equipa que vinha da sua pior classificação de sempre. Marco
Silva, encontra uma equipa que terminou a época em 2.º lugar, por mérito
próprio, sem os recursos dos seus rivais mais directos. Jardim, tinha um
discurso moderado, fruto da experiência já conquistada enquanto treinador antes
de chegar a Alvalade. Marco Silva tem um discurso arrojado, fruto da sua
irreverência. Jardim, nada tinha a perder, quando entrou em Alvalade, porque
pior, seria difícil fazer e ninguém lhe exigiu nada, a não ser um lugar digno
na tabela classificativa. Marco Silva, poderá não ter nada a perder, mas tem
muito a ganhar, porque o título é um objectivo, tem que ser um objectivo
natural, nas suas palavras.
Marco Silva é um bom treinador de
campo. Fez bom trabalho no único clube que treinou, o Estoril. Não tem a experiência
que se exige a um treinador para um clube como o Sporting, porque a sua idade
também não permite que assim seja. Tem apenas 36 anos mas há que valorizar a
oportunidade que se dá a esta nova geração de treinadores. Só desejo que o
sistema não o desrespeite, porque se havia algo que o Sporting de Jardim estava
a conseguir era precisamente algum respeito do sistema. Marco Silva, ainda não
terá peso suficiente, nem estatuto para se impor ao tal sistema, tão ou mais
decisivo do que as bolas que entram ou que vão à barra.
Vai ter que ter um grande e forte
apoio da estrutura, para não ter o mesmo destino que Paulo Fonseca teve no
Porto. Conduzir um Ferrari não é a mesma coisa que conduzir um Fiat 600, mesmo quando o condutor do Fiat até consegue terminar a corrida bem perto dos Ferraris. Paulo Fonseca não teve mãos para o Ferrari. Só que ao contrário deste, Marco Silva terá certamente outros problemas. Para o carro que vai conduzir, não basta ter mãos. É preciso ter coragem e astúcia para contornar os vários obstáculos que lhe vão aparecer durante a corrida.
Só lhe posso desejar muita sorte, a bem do meu coração.
Só lhe posso desejar muita sorte, a bem do meu coração.