terça-feira, 27 de maio de 2014

Ainda as eleições

Ainda no rescaldo das europeias, as primeiras páginas dos jornais de hoje dão-nos conta de um fenómeno aparentemente estranho: O partido vencedor, sente-se derrotado. O partido derrotado, sente que perdeu por pouco.

Seguro, não foi consciente na noite eleitoral. Embandeirou num triunfalismo desmedido. Perdeu-se em explicações que não fazem sentido, uma vez que quando se ganha, ganha-se. As derrotas é que carecem de explicações, não as vitórias. Bastava ter centrado os holofotes na derrota dos dois partidos, questionando quanto valem os dois separados e não estaríamos hoje a falar de uma margem de 4%. Se o CDS valer 4%, então o PSD está nos 23 %, logo, há uma distância de 8 % entre os dois partidos. Era por aqui que Seguro deveria ter ido, não deixando cavalgar a onda da “vitória de Pirro”.

Sendo coerente, deveria também assumir os números tal como eles são e para isso bastava-lhe dizer que "o PS está em condições de liderar uma alternativa e foi isso mesmo que ficou demonstrado no acto eleitoral". Em lugar de se apresentar um pouco mais contido, preferiu uma estratégia de ataque, aparecendo triunfante, falando em grande vitória e de que o governo “chegou ao fim”. Não admira que hoje, o estado geral socialista anseie por alguém mais acutilante na liderança, capaz de conduzir o partido a uma vitória mais consistente.

Do outro lado, todos se agarram a estas fragilidades como um náufrago se agarra a uma tábua em pleno alto-mar. Mas a verdade, é apenas uma. Neste momento, não sabemos quanto valem os dois partidos sozinhos nem interessa a nenhum deles potenciar tal debate, face a números tão confrangedores.

Deste acto eleitoral, resulta um mundo de incertezas, quanto ao futuro político do país. Se no PSD,  aqueles que suspiram por nova liderança (Rui Rio) parecem para já não querer levantar grandes ondas, no PS, suspira-se por António Costa, político mais maduro do que Seguro e que provavelmente conduziria o partido a uma vitória mais folgada nas próximas eleições.

De resto, um governo liderado por António Costa, coligado ou não, teria naturalmente outra capacidade política para promover as reformas que o país necessita (e que este Governo não fez nem quer fazer) como são a reforma do sistema político, parlamentar, regional e autárquico, a reforma da justiça (que não passa apenas por um novo mapa judiciário) e a reforma da Administração Pública (que é diferente do guião de medidas do Portas). Três reformas que carecem de amplo consenso e que provavelmente só terão êxito se aplicadas por um Governo forte e com uma base de apoio alargada.

Portugal, os partidos, o sistema político, a governação, tinham a ganhar com outras lideranças. António Costa e Rui Rio, são as figuras chave que conseguiriam reconciliar os cidadãos com a política, devolvendo credibilidade aos Partidos enquanto agentes fundamentais da democracia e da vida política.


Post Scriptum: Quando acabei de escrever este post, desconhecia que António Costa decidiu avançar para a liderança do PS. Há momentos em que um político não pode ficar indiferente e tem que se assumir, foi o que fez o Socialista.