Chegados aqui, o que deve fazer
António José Seguro?
Podemos colocar um sem número de
questões, mas na verdade, considerando os factos e chegados aqui, não resta
outra alternativa ao Secretário-geral do PS que não seja a marcação de eleições
internas no Partido e a consequente convocação de um Congresso extraordinário.
Se não o fizer, mostra receio,
atitude que lhe pode custar caro, mesmo no plano externo. A questão passou a
ser política e não propriamente administrativa. Dai que a actual direcção do PS
não pode nem deve “refugiar-se” nos estatutos. Deve sim, servir-se dos
estatutos e criar condições para que os militantes possam resolver aquilo que
só mesmo os militantes do PS podem resolver.
Dar o peito às balas é o único caminho
que Seguro poderá percorrer neste momento. Se não o fizer, mostra medo e nada
pior para um político do que evidenciar medo ou qualquer género de receio. Essa
atitude pode custar-lhe muito caro no plano externo, dai que, na minha opinião,
não exista neste momento outra opção.
António Costa pode agora ser acusado
de não ter seguido o trilho que os formalismos convencionais assim o exigem. Deveria
ter esperado pela Comissão Nacional que se realiza no sábado, para apresentar a
sua disponibilidade para disputar a liderança do Partido. O método assim o
exigiria. O problema é que no mundo em que vivemos, os factos políticos de
ontem, podem não ser os de amanhã. Não esqueçamos o “irrevogável” de Portas.
Costa não poderia ficar uma semana em silêncio, porque a sua jogada de ataque,
perderia naturalmente o impacto que teve. Seguro recompor-se-ia dos erros que
cometeu na noite eleitoral, quando classificou a vitória clara em grande
vitória.
Estamos aqui porque a uma derrota
histórica dos dois partidos da coligação que governa o país, não correspondeu uma vitória histórica do PS.
Importa que os Partidos saibam interpretar os factos que resultaram das eleições
europeias. No que respeita ao PS, o facto de não ter capitalizado grande parte
do voto do eleitorado moderado que não se revendo na coligação PSD/CDS, nem votando mais à
esquerda, preferiu votar em branco, nulo ou em Marinho e Pinto, não pode ser
apenas imputado a um eventual mau desempenho da liderança de Seguro.
O eleitorado está divorciado dos
Partidos. Contudo, o divórcio partiu dos próprios partidos. Daqui, para um
divórcio em geral com a política, foi um passo. Não perceber isto, é contribuir
ainda mais para o alastramento do problema, ou seja, um divórcio constante entre
eleitos e eleitores e com isso uma abnegação geral por parte dos cidadãos que
podem e devem promover uma cidadania política mais activa.
Os partidos têm que fazer este
debate, este exercício, procurando inverter o ciclo em que caíram, porque os
resultados estão à vista de todos. Nada fazer, comprometerá definitivamente o
futuro da democracia como a conhecemos. Não se ignore o crescimento dos extremismos
na Europa nem dos movimentos eurocépticos. Quando as instituições parecem viver
de costas voltadas para os seus cidadãos, abrem-se espaços de oportunidade para
o aparecimento de fenómenos oportunistas e radicais.
O PS deve liderar a reforma do
sistema político e a reforma do Estado, desde logo porque a actual maioria, tendo
oportunidade para o fazer, preferiu trilhar outros caminhos. Deve ser o PS a chamar
a maioria e os restantes partidos para esse debate, liderando a agenda.
Se a actual situação em que se
encontra o PS, contribuir para que emerja no PS uma discussão e debate
interno sobre a melhor estratégia para servir o país e sobre qual o melhor caminho
para exercer a governação, estou certo de que a liderança que vencer, sairá
reforçada, especialmente se for Seguro a vencer as eleições, porque desde logo
sairá mais reforçado e legitimado. Também António Costa se vencer, poderá invocar que
tinha razão, quando questionou a estratégia do líder e se disponibilizou para liderar o partido, precisamente por considerar ter a melhor proposta e projecto político para o
país.
Se por outro lado, tudo isto
servir apenas para que os “rapazes” do aparelho se entretenham a contar
espingardas, jogando interesses pessoais, em lugar da preservação do interesse
geral que resulta da existência moral do partido, então, o PS poderá pagar bem
caro tudo isto.