quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

crónica do tempo que passa

Nasci num dia frio de inverno, pelas 07.00 horas da manhã de um domingo, no dia 20 de janeiro, numa pacata vila transmontana, há 51 anos. O tempo era outro, o mundo também era outro, a vida, as pessoas, tudo era diferente de hoje. Na verdade, nos dias atuais, o amanhã já é diferente do agora, porque tudo acontece vertiginosamente mais rápido. Claro está que também nos desinteressamos muito mais rápido das coisas e todos estamos sem paciência. A tolerância também já não é bem o que era. Mas de facto, o relógio é o mesmo, conta as mesmas horas, os mesmos minutos e segundos de há 51 anos. A forma é a mesma, ainda não conseguiram alterar isso, mesmo que tudo aconteça mais rápido.

A evolução trouxe-nos a patamares invejáveis. As gerações anteriores, a dos nossos pais, avós e bisavós, são a geração de ferro, porque passaram muita privação. Invernos mais frios e rigorosos, guerras, falta de cuidados de saúde, acesso à literacia, na verdade, falta de quase tudo, se observarmos as coisas a partir do momento em que nos encontramos.

Seja como for, agora temos tudo, temos também mais letrados, nunca houve tanta informação e acesso a ela, saúde, educação, habitação e até segurança, apesar das guerras noutros pontos do globo. Mas o vazio que os algoritmos provocam, esses, não irão perdoar. Tudo é descartável, tudo. As pessoas também. Por isso, há menos tolerância de uns para com outros, menos solidariedade, menos coração, menos tudo. Vive-se cada vez mais de aparência, não de essência. Sinceramente, entristece-me muito não ter poder para contornar a lógica dos algoritmos que os grandes do dinheiro nos estão a impor. Detesto fascistas, estados ditatoriais e opressores. Detesto ver gente a apoderar-se do poder através da legitimação democrática do voto, mas à custa da manipulação das massas, seja com os algoritmos usados de forma perversa, seja com a desinformação que prolifera, com as difamações, falsidades, etc. Que tristeza tão grande, para os que se bateram e morreram para termos um mundo, um país livre de amarras e opressão.

Fui educado em liberdade, pelos meus pais que foram educados em ditadura. Tenho muita dúvida se não devo preparar os meus para viverem o futuro num regime que os pode vir a oprimir por se manifestarem livremente ou simplesmente por não serem aquilo que querem que sejam.

Isto são só desabafos, de quem também tentou fazer alguma coisa, ainda que pequena, para que certos valores se mantivessem sempre de pé. E assim continuarei a lutar, porque como diz a canção, mesmo na noite mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Ladainha dos Póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

sábado, 7 de outubro de 2023

Está calor

Está calor, na cidade e na montanha. Dizem não ser normal, mas, melhor dizendo, o que era normal outrora é agora anormal para os que viveram outros outonos. Para os que vão viver os próximos invernos, o que é agora anormal para uns será normal para eles. São assim os tempos e o tempo.

O sol anda baixo, no campo e na cidade. É preciso colocar um chapéu. 

domingo, 17 de setembro de 2023

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

terça-feira, 7 de setembro de 2021

O mestre, completa hoje 91 anos!















Sonny Rollins - Photo by John Abbott

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

domingo, 13 de junho de 2021

quarta-feira, 9 de junho de 2021

sexta-feira, 4 de junho de 2021

sábado, 24 de abril de 2021