Bons e felizes tempos aqueles em
que os escândalos na sala oval da Casa Branca eram outros. Ontem, o mundo
assistiu, incrédulo, ou não, a um verdadeiro vexame, vil e covarde provocado
por dois homens de quem o seu povo se devia envergonhar infinitamente. Ter o
desplante de perguntar ao presidente ucraniano porque não tinha vestido um fato
para o encontro, diz bem sobre o tipo de gente que governa os Estados Unidos.
Nunca os EUA estiveram tão distantes dos princípios democráticos como hoje.
Lincoln, Roosevelt, Regan e tantos outros Presidentes dos EUA devem estar a
sentir-se mal na eternidade.
A meio da
semana fomos presentados com um suposto vídeo elaborado pelo algoritmo da
inteligência artificial (quantas saudades da inteligência natural) onde vemos a
nova Gaza, a Riviera de Gaza, com o inenarrável Musk jorrando notas atrás de
notas e dançarinas seminuas, qual mil uma noite das arábias. Aparecem também o
próprio Trump que não se coibiu de partilhar o vídeo e Benjamin Netanyahu, numa
bela piscina. Absolutamente indecoroso, e ignóbil, perante um povo, uma região,
uma guerra sangrenta, independentemente do lado da razão, que tanta morte,
destruição e dor provocou.
Para compor o
ramalhete da anormalidade dos tempos que vivemos, apareceu um tal de Milei, na
Argentina, a classificar as pessoas com alguma espécie de incapacidade
intelectual, como "idiotas", "imbecis" e "deficientes
mentais".
Se ainda não
se aperceberam, se não conhecem a história, os sinais estão todos aí. Antes do despontar do Nazismo, também se viu, noutra amplitude, o que agora assistimos. E
nós por cá também temos muitos, muitos moralistas, muitos lobos com pele de
cordeiro, muitos bem-falantes, com o discurso do “isto está tudo mal”, “são
todos iguais”, “é tudo corrupto”, misturando a estrada da beira com a beira da
estrada, porque o que importa é lançar confusão, fake news, calúnias e
desinformação. São os engenheiros do caos.
Andamos todos
distraídos nas nossas vidas, cada vez nos abstemos mais de tomar partido, de
nos manifestarmos e isso é o que eles querem, os engenheiros do caos.
Convido-vos,
meus amigos, a lerem este livro de Giuliano da Empoli, um ensaísta italiano,
que aborda a ascensão dos populismos na Europa e no mundo, mostrando como há
uma linha ideológica comum a todos e que está a inverter as regras do jogo
democrático, com consequências que se revelarão desastrosas para a humanidade.
Resta-nos
agir. Vou-me repetir, uma vez mais, "mesmo na noite mais triste, em tempos
de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não".