sábado, 1 de março de 2025

Os Engenheiros do Caos




Bons e felizes tempos aqueles em que os escândalos na sala oval da Casa Branca eram outros. Ontem, o mundo assistiu, incrédulo, ou não, a um verdadeiro vexame, vil e covarde provocado por dois homens de quem o seu povo se devia envergonhar infinitamente. Ter o desplante de perguntar ao presidente ucraniano porque não tinha vestido um fato para o encontro, diz bem sobre o tipo de gente que governa os Estados Unidos. Nunca os EUA estiveram tão distantes dos princípios democráticos como hoje. Lincoln, Roosevelt, Regan e tantos outros Presidentes dos EUA devem estar a sentir-se mal na eternidade.

A meio da semana fomos presentados com um suposto vídeo elaborado pelo algoritmo da inteligência artificial (quantas saudades da inteligência natural) onde vemos a nova Gaza, a Riviera de Gaza, com o inenarrável Musk jorrando notas atrás de notas e dançarinas seminuas, qual mil uma noite das arábias. Aparecem também o próprio Trump que não se coibiu de partilhar o vídeo e Benjamin Netanyahu, numa bela piscina. Absolutamente indecoroso, e ignóbil, perante um povo, uma região, uma guerra sangrenta, independentemente do lado da razão, que tanta morte, destruição e dor provocou.

Para compor o ramalhete da anormalidade dos tempos que vivemos, apareceu um tal de Milei, na Argentina, a classificar as pessoas com alguma espécie de incapacidade intelectual, como "idiotas", "imbecis" e "deficientes mentais". 

Se ainda não se aperceberam, se não conhecem a história, os sinais estão todos aí. Antes do despontar do Nazismo, também se viu, noutra amplitude, o que agora assistimos. E nós por cá também temos muitos, muitos moralistas, muitos lobos com pele de cordeiro, muitos bem-falantes, com o discurso do “isto está tudo mal”, “são todos iguais”, “é tudo corrupto”, misturando a estrada da beira com a beira da estrada, porque o que importa é lançar confusão, fake news, calúnias e desinformação. São os engenheiros do caos.

Andamos todos distraídos nas nossas vidas, cada vez nos abstemos mais de tomar partido, de nos manifestarmos e isso é o que eles querem, os engenheiros do caos.

Convido-vos, meus amigos, a lerem este livro de Giuliano da Empoli, um ensaísta italiano, que aborda a ascensão dos populismos na Europa e no mundo, mostrando como há uma linha ideológica comum a todos e que está a inverter as regras do jogo democrático, com consequências que se revelarão desastrosas para a humanidade.

Resta-nos agir. Vou-me repetir, uma vez mais, "mesmo na noite mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não".