terça-feira, 6 de outubro de 2015

E agora, Cavaco?

Tenho para comigo uma máxima de que as eleições não se ganham, perdem-se. Foi o que aconteceu no domingo passado nas eleições legislativas. A coligação que estava no poder, não perdeu as eleições. Baixou em percentagem de votos e naturalmente em mandatos parlamentares, mas não perdeu as eleições.

Para que quem está no poder perca uma eleição, têm que se conjugar duas variáveis: primeiro, o exercício da governação tem que ser mau, ou seja, quem exerceu o poder, governou mal e esse sentimento tem que estar generalizado no eleitorado. Segundo, torna-se imprescindível, a existência de uma alternativa de confiança, que agregue e possibilite a transferência e concentração de votos nessa força política.

A vitória ou derrota é mais ou menos expressiva conforme se verifique a intensidade das variáveis. Se por exemplo se conjugarem plenamente, então a sua expressão será elevada. Se houver algum desnível entre ambas, então a tendência será para uma expressão menos evidente no resultado.

Tomemos o exemplo dos resultados de domingo. Existe um sentimento de que a governação foi mal exercida no mandato anterior. Esse sentimento, apesar de se ter vindo a esbater, ainda se verifica. Desta forma, a primeira variável, confirma-se com alguma intensidade. O problema é que o eleitorado não sentiu confiança na alternativa apresentada e dessa forma não concentrou os votos na principal força política opositora ao poder, no caso, o PS.

Votar é um acto complexo. Se é verdade que há eleitores indecisos até ao momento em que fazem a cruz no boletim, também não deixa de ser verdade que a maioria decide-se muito antes desse momento. Quem está no poder, goza de múltiplas vantagens. Tem uma capacidade de influência muito maior sobre a comunicação social, sobre as instituições que dependem do Estado e sobre as organizações do terceiro sector. No entanto, pese embora, tudo isto seja verdade, a grande vantagem que a coligação catapultou face ao PS foi a ideia de estabilidade e segurança que transmitiu ao eleitorado. Os erros cometidos pela campanha do PS, logísticos e políticos, desde logo, permitir que o debate político se centrasse apenas em torno do seu próprio programa, tornaram-se fatais, não conseguindo gerar confiança no eleitorado.

O Presidente da República pediu uma maioria estável com capacidade para suportar o próximo mandato governativo. Tendo os resultados evidenciado que o povo não quer governação em maioria, torna-se interessante como vai Cavaco descalçar a bota, ou seja, saber se dá ou não posse a um governo minoritário.