sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Cruxifixos, coelhos e brasileiros

Crucifixos, coelhos e fé nos indecisos. Esta campanha teve de tudo um pouco, como sempre foi de 1974 aos nossos dias. Debates, comícios, feiras, arruadas, entrevistas, almoços e jantares. Militantes mais inflamados e acalorados, outros mais lúcidos e sensatos. Pormenores que contam, para o bem e para o mal. Momentos marcantes, imagens que valem por mil palavras e palavras que valem mais do que mil imagens. São brasileiros, os profetas do marketing e da fé. Eles lá sabem como fazer, como vender a ilusão ao povo, como compor a imagem que a televisão vai passar à noite no telejornal e como galvanizar a dinâmica da campanha.

Chegamos ao último dia. Queimam-se os últimos cartuchos, para salvar ou matar o coelho. Mas ele está bem guardado e os caçadores nem sempre acertam. Por vezes até se distraem a fazer mira uns aos outros e não ao verdadeiro alvo. E o coelho lá se vai esgueirando, por portas onde até os caçadores mais experimentados esbarram. Ele é uma máquina, o Portas. Chegou no período pós taxi, de barrete na cabeça como verdadeiro homem da lavoura, revogou o partido do contribuinte, matou o pêpêdê, ajudou Passos a matar a social democracia e é hoje o verdadeiro líder da direita.  

Costa, lá vem ele, meio rouco, já na recta final mas cheio de força interior, com a máquina socialista ora mais afinada, ora mais enferrujada pelo cepticismo que as sondagens lhe provocam. São rosas, senhores, são rosas que se distribuem nas arruadas das vilas e cidades portuguesas. A ver vamos se o seu perfume encanta o povo.

Jerónimo, duro como o aço, toca a segurar o proletariado, não vão eles votar no PS que se diz de esquerda mas governa à direita. E Catarina, discurso fácil, olho a brilhar, está no seu teatro favorito.

Não esqueçamos os pequenos. São grandes, porque são pequenos. Joana Amaral Dias vai ser mãe. Continua bonita, nua ou vestida. Ana Drago e Rui Tavares, são boas cabeças. Marinho e Pinto diz o que os outros não dizem, mas transpira populismo. Há os que defendem os animais, falta a Carmelinda e Garcia Pereira já merecia sentar-se no Parlamento.

Chegados aqui, depois do brutal aumento de impostos, das privatizações a pataco, dos cortes salariais acima de 650 euros, do não pagamento dos subsídios de férias e de natal, do corte nas pensões e reformas, da emigração massiva, do aumento da pobreza e do desemprego para números nunca vistos, do Relvas e dos vistos Gold, do irrevogável e dos portugueses piegas, da abolição dos feriados, do citius,  dos lapsos fiscais de Passos, da dívida pública ter continuado a galopar e do deficit público não estar assim tão controlado como nos querem fazer crer, parece impossível que a coligação PSD/CDS possa vir a ganhar as eleições. Mas pode. Porque pode, são contas para outro rosário.

Como dizia um Senhor na minha terra, "o povo paga e reza". O marketing brasileiro, agradece. 

Imagem: www.publico.pt