quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O debate

No dia em que uma sondagem coloca pela primeira vez a coligação PSD/CDS à frente do PS realiza-se o único debate televisivo entre os dois líderes que terá naturalmente elevada importância, não apenas por ser o único, mas sobretudo pelas circunstâncias que caracterizam o momento político em que hoje nos encontramos.

Deixemos a sondagem para outra análise e concentremo-nos na importância do debate.

Não há outra oportunidade para passar a mensagem, a ideia geral, ao que se vem e para onde se vai. Não será através de comícios e arruadas populares à moda antiga que o eleitor não militante será convencido. Claro está que a dinâmica mobilizadora é fundamental. Galvaniza, dá conforto, esperança, motiva e impulsiona uma candidatura rumo à vitória ou na falta dela, a uma derrota. Nos dias que correm o debate televisivo ainda assume, na minha opinião, uma importância significativa, principalmente no contexto actual. Das duas uma, ou Costa ganha inequivocamente o debate ou creio que a vitória do PS pode ficar comprometida.

E Passos, o que conta para Passos. Numa posição mais confortável do que Costa, só tem que não cometer erros. Tem que fazer o que faz quem está no poder, porque as eleições não se ganham, perdem-se. Se Passos não as quer perder, nesta fase do jogo, tendo em conta as circunstâncias do momento político actual, não pode cometer grandes erros até porque é António Costa quem tem de arriscar.

Não é por acaso que no dia de hoje sai uma sondagem deste calibre. As sondagens, valem o que valem, dizem os que normalmente não lhe agradam os números. É verdade que valem o que valem, mas não deixam de entusiasmar uns e enervar outros. Precisamente por isso mesmo é que no dia de hoje foi publicada esta sondagem, para enervar António Costa e tranquilizar Passos Coelho. Se saísse amanhã, com o mesmo resultado, o efeito no debate de hoje seria nulo. Mas também pode ser que estes números possam consciencializar Costa de que este cartucho tem que ser certeiro.

A imagem é fundamental. Mesmo o eleitor mais esclarecido e que está mais interessado na proposta política do que na prestação televisiva tenderá a deixar-se contaminar pela imagem. Recordem-se os célebres debates entre Nixon e Kennedy nas presidenciais norte-americanas em 1960. Para quem apenas ouviu o debate via rádio, Nixon ganhou o debate. Mas para os espectadores televisivos, ganhou Kennedy. Kennedy tinha um visual jovem, mais apelativo e elegante do que Nixon. Este debate marcou definitivamente a importância da imagem e da comunicação em política.

Não entremos no campo da linguagem corporal, da cor da gravata, do soundbite mortífero em que Portas é exímio, mas tudo conta e os assessores de comunicação e imagem de ambos sabem da poda. Passos está mais traquejado em televisão do que Costa, mas este pode tirar proveito das fraquezas governativas de Passos e sobretudo da sua experiência enquanto político mais experiente do que Passos. Seja como for, não há marketing que resista a um produto fraco, especialmente aos olhos de quem sabe o que compra.

Foto: http://www.gettyimages.pt/