Se
perguntarmos ao Primeiro-Ministro ou à maioria dos nossos políticos qual é o
maior problema do país, certamente que nos responderão qualquer coisa relacionada
com as finanças públicas, tão fixados que andam em cumprir as metas da Troika,
custe o que custar, doa a quem doer. Mas se fizermos a mesma pergunta a um
sociólogo, a um antropólogo ou a um cidadão que pense um pouco para além do
imediato, certamente que a resposta será bem diferente.
Os
fazedores de opinião, não vêem outra coisa que não sejam números e estatísticas
financeiras e os meios de comunicação social estão inundados de “economês” no prime-time. Isso muitas vezes, tira-nos
lucidez para observar a verdadeira dimensão de certos problemas e pensar
sobretudo nas suas causas e consequências.
Portugal
está a ficar velho, tão velho, como velha nação que é. Pior do que isso, está
velho e deprimido. Da depressão, sairemos, a espaços, mas lá regressaremos
novamente. Os números são preocupantes e serão certamente potenciadores de uma
catástrofe social e económica daqui a umas duas décadas se nada entretanto for
feito. Não faltam avisos, teses, diagnósticos e debates, sendo muitos os que
ultimamente alertam para o grande problema da sociedade portuguesa, gerador de
outros graves problemas no futuro: a catástrofe demográfica que se adivinha.
Sem perspectivas
de um mínimo de estabilidade profissional e rodeados pela incerteza, os jovens
cada vez pensam em procriar mais tarde e grande parte dos casais em idade
fértil, fica-se pelo filho único. Segundo as estimativas da Associação
Portuguesa de Demografia, com base nas estatísticas do INE, Portugal deverá
registar este ano um novo mínimo histórico de nascimentos, abaixo dos 80 mil
partos, sendo que, nos últimos anos, o índice de fecundidade tem sido cerca de
40% inferior ao necessário para assegurar a renovação de gerações. Não haja
ilusões, daqui por 20 anos tudo isto pesará imenso no país.
O fenómeno
não é exclusivo de Portugal. Em vários países europeus verifica-se uma
tendência crescente para o envelhecimento da população, sendo este, o maior
desafio que a Europa terá que enfrentar. Contudo, em Portugal o fenómeno galopa
incessantemente estando a atingir níveis deveras preocupantes.
Diminuindo
a população activa, os problemas económicos e sociais do país vão certamente
agravar-se, provocando mais desigualdade e assimetrias diversas. As contas
públicas não resistirão à chacina demográfica. O Estado Social (aquele que deve
estar presente quando dele precisamos) não conseguirá responder e entrará em
colapso. O drama será visível no serviço nacional de saúde, nos serviços
públicos do interior (se ainda existir algum nessa altura) e sobretudo na
protecção social que as pensões e reformas deveriam assegurar no final da vida
dos cidadãos. É para isto, que temos de olhar e não apenas para o imediato,
porque os problemas que hoje estão no centro da atenção política, (défice e
dívida pública) serão os mesmos de amanhã, mas com uma escala muito maior.
Para a maior
parte dos estudiosos esta tendência deve-se a uma coincidente conjugação de
factores, como a precariedade no trabalho, a crise económica, a evolução social
do papel da mulher no mundo do trabalho, o aumento da emigração e a diminuição
da imigração, além da falta de políticas públicas consistentes que estanquem os
efeitos destas evidências.
Paradoxalmente,
a receita para estes problemas, é a seguinte: A troika manda flexibilizar as
leis laborais, para que se despeçam as pessoas a torto e a direito e se aumente
a instabilidade social. A crise económica combate-se com cortes nos recursos
das pessoas, deixando-lhes o rendimento disponível depauperado. Menos
rendimento disponível, significa menos consumo interno, logo, mais desemprego.
Relativamente ao papel social da mulher e do homem, no âmbito da conjugação que
deve haver entre emprego e família, em lugar de se olhar para o modelo nórdico,
onde natalidade e emprego caminham de mãos dadas, opta-se por continuar a
tratar do problema dando mais um ou dois meses de licença parental e respectivo
subsídio quando está mais do que estudado que não é por ai que se resolve o
problema. Os jovens são convidados a emigrar e os imigrantes vão-se também
embora porque chegaram à conclusão que mal por mal estão melhor no país deles.
Estamos a
desaparecer. É um facto. Admitindo-o, talvez seja mais fácil começar a atacar o
problema de frente. Nada fazendo, vamos todos passar um mau bocado, muito pior
do que o que estamos a passar neste momento.
Esta
problemática está bem patente no país, nas assimetrias regionais e nos
contrastes demográficos existentes. Olhemos para o interior, desertificado,
entregue a si mesmo, cada vez com menos gente, sem recursos de saúde, com
escolas, postos de correio, tribunais e serviços de finanças a encerrar. O que
fazer para estancar esta sangria demográfica que nos assola?
Só existe
coesão e equilíbrio territorial quando as assimetrias regionais se esbaterem em
vários sectores. Deixar a desertificação do interior alastrar, como tem
acontecido, não só provocará ainda mais dispêndio de recursos públicos como
também desaproveitará a oportunidade de alavancar o sector agrícola, florestal
e ambiental, tão importantes para o equilíbrio e desenvolvimento de todo o território
nacional.
E por
incrível que pareça, no interior, há condições para que se possa começar a
inverter este drama. Há terra, há floresta, há água, há tempo e ainda há boa
gente capaz de ajudar outra gente. Só precisamos que a elite política tenha
visão e não se concentre apenas nos ditames do “economês” governando para hoje.
Os políticos, são sobretudo, visionários. Se não o forem, não são políticos. São
os visionários que nos mostram o caminho.