segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Para onde vamos?

Se perguntarmos ao Primeiro-Ministro ou à maioria dos nossos políticos qual é o maior problema do país, certamente que nos responderão qualquer coisa relacionada com as finanças públicas, tão fixados que andam em cumprir as metas da Troika, custe o que custar, doa a quem doer. Mas se fizermos a mesma pergunta a um sociólogo, a um antropólogo ou a um cidadão que pense um pouco para além do imediato, certamente que a resposta será bem diferente.

Os fazedores de opinião, não vêem outra coisa que não sejam números e estatísticas financeiras e os meios de comunicação social estão inundados de “economês” no prime-time. Isso muitas vezes, tira-nos lucidez para observar a verdadeira dimensão de certos problemas e pensar sobretudo nas suas causas e consequências.

Portugal está a ficar velho, tão velho, como velha nação que é. Pior do que isso, está velho e deprimido. Da depressão, sairemos, a espaços, mas lá regressaremos novamente. Os números são preocupantes e serão certamente potenciadores de uma catástrofe social e económica daqui a umas duas décadas se nada entretanto for feito. Não faltam avisos, teses, diagnósticos e debates, sendo muitos os que ultimamente alertam para o grande problema da sociedade portuguesa, gerador de outros graves problemas no futuro: a catástrofe demográfica que se adivinha.

Sem perspectivas de um mínimo de estabilidade profissional e rodeados pela incerteza, os jovens cada vez pensam em procriar mais tarde e grande parte dos casais em idade fértil, fica-se pelo filho único. Segundo as estimativas da Associação Portuguesa de Demografia, com base nas estatísticas do INE, Portugal deverá registar este ano um novo mínimo histórico de nascimentos, abaixo dos 80 mil partos, sendo que, nos últimos anos, o índice de fecundidade tem sido cerca de 40% inferior ao necessário para assegurar a renovação de gerações. Não haja ilusões, daqui por 20 anos tudo isto pesará imenso no país.

O fenómeno não é exclusivo de Portugal. Em vários países europeus verifica-se uma tendência crescente para o envelhecimento da população, sendo este, o maior desafio que a Europa terá que enfrentar. Contudo, em Portugal o fenómeno galopa incessantemente estando a atingir níveis deveras preocupantes.

Diminuindo a população activa, os problemas económicos e sociais do país vão certamente agravar-se, provocando mais desigualdade e assimetrias diversas. As contas públicas não resistirão à chacina demográfica. O Estado Social (aquele que deve estar presente quando dele precisamos) não conseguirá responder e entrará em colapso. O drama será visível no serviço nacional de saúde, nos serviços públicos do interior (se ainda existir algum nessa altura) e sobretudo na protecção social que as pensões e reformas deveriam assegurar no final da vida dos cidadãos. É para isto, que temos de olhar e não apenas para o imediato, porque os problemas que hoje estão no centro da atenção política, (défice e dívida pública) serão os mesmos de amanhã, mas com uma escala muito maior.

Para a maior parte dos estudiosos esta tendência deve-se a uma coincidente conjugação de factores, como a precariedade no trabalho, a crise económica, a evolução social do papel da mulher no mundo do trabalho, o aumento da emigração e a diminuição da imigração, além da falta de políticas públicas consistentes que estanquem os efeitos destas evidências.

Paradoxalmente, a receita para estes problemas, é a seguinte: A troika manda flexibilizar as leis laborais, para que se despeçam as pessoas a torto e a direito e se aumente a instabilidade social. A crise económica combate-se com cortes nos recursos das pessoas, deixando-lhes o rendimento disponível depauperado. Menos rendimento disponível, significa menos consumo interno, logo, mais desemprego. Relativamente ao papel social da mulher e do homem, no âmbito da conjugação que deve haver entre emprego e família, em lugar de se olhar para o modelo nórdico, onde natalidade e emprego caminham de mãos dadas, opta-se por continuar a tratar do problema dando mais um ou dois meses de licença parental e respectivo subsídio quando está mais do que estudado que não é por ai que se resolve o problema. Os jovens são convidados a emigrar e os imigrantes vão-se também embora porque chegaram à conclusão que mal por mal estão melhor no país deles.

Estamos a desaparecer. É um facto. Admitindo-o, talvez seja mais fácil começar a atacar o problema de frente. Nada fazendo, vamos todos passar um mau bocado, muito pior do que o que estamos a passar neste momento.

Esta problemática está bem patente no país, nas assimetrias regionais e nos contrastes demográficos existentes. Olhemos para o interior, desertificado, entregue a si mesmo, cada vez com menos gente, sem recursos de saúde, com escolas, postos de correio, tribunais e serviços de finanças a encerrar. O que fazer para estancar esta sangria demográfica que nos assola?

Só existe coesão e equilíbrio territorial quando as assimetrias regionais se esbaterem em vários sectores. Deixar a desertificação do interior alastrar, como tem acontecido, não só provocará ainda mais dispêndio de recursos públicos como também desaproveitará a oportunidade de alavancar o sector agrícola, florestal e ambiental, tão importantes para o equilíbrio e desenvolvimento de todo o território nacional.

E por incrível que pareça, no interior, há condições para que se possa começar a inverter este drama. Há terra, há floresta, há água, há tempo e ainda há boa gente capaz de ajudar outra gente. Só precisamos que a elite política tenha visão e não se concentre apenas nos ditames do “economês” governando para hoje. Os políticos, são sobretudo, visionários. Se não o forem, não são políticos. São os visionários que nos mostram o caminho.