Quem pensou que já tinha visto de tudo na política portuguesa, enganou-se redondamente. Não valerá aqui a pena gastar muitas linhas sobre o assunto, porque corre tinta mais capaz do que a minha por esses jornais fora.
Portas, bateu com a porta. É um acto inqualificável e irresponsável, dizem a maioria dos analistas. É verdade que sim. Portas deveria ter engolido mais um sapo e daqui a um mês outro e ainda mais outro, em nome do apregoado interesse nacional e da preciosa estabilidade política, aguentando o barco até ao final do programa de ajustamento a que Portugal está obrigado a cumprir. Afinal de contas, o pilar da estabilidade, foi o primeiro a ruir.
É fácil encostar Portas à parede e apontar-lhe toda a responsabilidade depois do acto isolado que tomou. Contudo, o verdadeiro responsável por toda esta desgraça que se abateu no pais, tem um rosto: Pedro Passos Coelho.
O Primeiro-Ministro (PM) é politicamente inconsistente e incompetente. Não tem outro nome, é incompetente, porque um PM que não sabe coordenar a gestão política de um Governo, é incompetente.
É um incompetente desde o primeiro dia em que foi eleito líder do PSD. Iludido pelo poder por alguns dos seus correligionários, verdadeiros detractores dos princípios sociais-democratas, não olhou a meios para atingir fins. Prometeu o que sabia não poder cumprir. Debaixo de um manto de moralidade, enganou o Partido e os Portugueses que o elegeram. Não estou a ser duro. Estou simplesmente a caracterizar a personalidade de alguém que não está nem nunca esteve preparado para governar, especialmente nas actuais circunstâncias.
E que dirão agora os iluminados do regime? Catroga, Borges, Moedas ou Ângelo Correia?
Valerá a pena, até para os que apressadamente desejam eleições, recordar a queda de Sócrates e o que sucedeu aos juros da dívida e à própria dívida entre o momento da demissão em Março de 2011 e o acto eleitoral de Junho. Vejam-se as consequências devastadoras da irresponsabilidade que foi na altura, mergulhar o país numa crise política. Em apenas três meses, a dívida directa do Estado cresceu qualquer coisa como 19 mil milhões de euros. Parece uma loucura, mas não é.
Os principais protagonistas da altura, são os mesmos de agora. Ironias do destino.
Os principais protagonistas da altura, são os mesmos de agora. Ironias do destino.
António José Seguro, reclama a realização de eleições. Em democracia, as eleições são sempre uma solução e nunca um obstáculo. Seguro, não tem responsabilidades directas no pântano político em que mergulhamos nas últimas 24 horas. Mas tem imensa responsabilidade a partir deste momento, porque nele poderá estar a chave para evitar um segundo resgate. Por isso mesmo, o líder do PS deveria apresentar-se como solução, viabilizando uma solução governativa até ao final do programa de ajustamento, protelando a realização de eleições, para 2014, após o final desse programa.
Esta postura, revelaria sentido de Estado, credibilidade e responsabilidade política, aquilo que se pede no presente momento e faz toda a diferença na avaliação do carácter dos líderes políticos. Com essa postura, Seguro diferencia-se dos seus congéneres. Os portugueses saberiam compensar o líder socialista, por este acto. Ao invés, saberão condena-lo, se revelar demasiada sede de poder.
Do ponto de vista estratégico, não se pense que o PS tenha muito a ganhar com a realização de eleições antecipadas. Não está garantida uma maioria clara e confortável, donde resulte uma solução governativa. Por outro lado, não será o PSD liberal de Passos Coelho que irá a votos. Certamente irá emergir no seio dos sociais-democratas, um líder credível, com experiência e capacidade política inquestionável, como Rui Rio. Não pense o líder Socialista que serão favas contadas, porque o seu adversário não será Passos Coelho.
Não vale a pena tecer qualquer referência sobre o comportamento do senhor Presidente da República em todo este processo.
Contudo, fica a pergunta: e agora Cavaco?