sexta-feira, 5 de abril de 2013

A escalada dos Relvas

O Primeiro-ministro, acaba de iniciar o debate quinzenal na Assembleia da República, a falar de economia social. Contudo, não será esta a temática que marcará a agenda. O inevitável desenrolar de acontecimentos à volta do caso Relvas será o prato forte do debate.

Na hora da despedida, o Ministro voltou a não ser feliz. Falou para o Partido, recordando aos que consecutivamente lhe pediram a cabeça o trabalho árduo ao longo de 5 anos para levar Passos e o partido ao poder.

Os Partidos políticos, enfrentam hoje desafios complexos e ao mesmo tempo aliciantes. As suas estruturas assentam em modelos tradicionais, rígidos, ensimesmados, pouco flexíveis a grandes mudanças. Esta forma de organização reflecte-se naturalmente na interacção estabelecida com as pessoas, com as instituições, com a sociedade.

É verdade que por vezes, especialmente antes de actos eleitorais, se promovem ciclos de conferências ou estados gerais onde se convidam personalidades independentes para debaterem com os militantes os programas e projectos eleitorais.

O recrutamento parece fechado a quem quer por livre iniciativa e identificação ideológica associar-se ao Partido com o único objectivo de contribuir civicamente com as suas ideias para a afirmação e crescimento dessa ideologia. Aliás, são raros os que por vontade própria se sentem atraídos a participar em actividades partidárias, precisamente, pela rigidez organizativa em que assenta a sua acção.

Na maior parte das vezes vão subindo na estrutura aqueles que se destacam pela astúcia e perspicácia de arregimentar mais povo (militantes) que na hora certa, lá vão dar o voto nas eleições internas das estruturas naqueles que garantem melhor vida aos que os apoiaram. E tudo funciona em cadeia e sequência, mediante o velha metodologia do cacique e do favor, tão enraizados entre nós.

É assim que muitas vezes são escolhidos aqueles que nos vão representar na Assembleia da República. É assim que os "Relvas" vão subindo. É assim que são escolhidos os nossos Autarcas. Meia dúzia de pessoas, através do voto de outros 50 ou 100 correligionários, escolhem um candidato a um Município. Muitas vezes, não pela sua capacidade política, não pelas suas qualidades humanas, não pelos seus valores pessoais, mas porque é aquele que garante continuidade ao sistema em que assenta a estrutura partidária. Quem se opõe, quem ousa quebrar a rotina procedimental ou dar uma pedrada no charco, é encostado ou auto-afasta-se.

Necessariamente que os partidos políticos, como pilares base do actual sistema democrático, também tem evoluído. Contudo, o crescente afastamento entre eleitos e eleitores, a par da crescente reivindicação dos cidadãos por outras formas de participação política para além da via partidária, reflecte a falência do modelo que predomina na gestão e organização das estruturas partidárias.

A mudança também começa por aqui. Por dentro dos próprios Partidos. É preciso iniciar um novo paradigma, capaz de promover uma reforma no seio das estruturas partidárias. A ideologia tem que voltar a dominar o debate, porque só assim se pode acolher aqueles que efectivamente querem dar o seu contributo e apoio à construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

É urgente que quem nos representa e governa, seja escolhido com elevado sentido de missão e serviço público e não em função da metodologia que já vêm dos tempos dos antigos regedores de paróquia.