Não sei o que se passou na cabeça de Aníbal Cavaco Silva, um político experiente, que raramente põe o pé em ramo verde. Cavaco quereria solidarizar-se com a maioria dos Portugueses que lutam diariamente com dificuldades para chegarem ao fim do mês com as suas contas em dia. Provavelmente quereria dizer que o momento é de grande aperto para todos e nesse sentido todos estamos e temos que fazer sacrifícios.
Mas as declarações são de facto inenarráveis e anedóticas. Diria mesmo que são declarações lamentáveis para um chefe de Estado, tendo em conta o actual momento que se vive no país.
Não admira, quem após um dia de labuta no campo, quem está desempregado e tem que por pão na mesa aos filhos, quem sobrevive com uma pensão mínima, quem trava uma luta titânica para pagar o infantário dos filhos, as despesas da casa e os impostos ao Estado, quem se esforça para manter uma vida minimamente digna, não esteja completamente atónito, desalentado e sem esperança, quando ouve semelhante barbaridade a um Chefe de Estado que abdicou do salário de Presidente da República porque o somatório de pensões que recebe é evidentemente mais vantajoso que o tal salário, ultrapassando os 10.000 € mensais.
Cavaco vive em Belém. As despesas da Casa Civil da Presidência da República não são pagas por Cavaco. Nessas despesas incluem-se comunicações, despesas de representação, estadias e viagens, combustíveis, alimentação entre tantas outras que compõem a estrutura de custos da Casa Civil do Presidente. Se as suas reformas não chegam para manter a vivenda em Boliqueime e o apartamento de Lisboa, então ao Presidente resta seguir o conselho que os actuais governantes, têm deixado aos Portugueses, ou seja, emigrar.