terça-feira, 9 de julho de 2019

Sporting


O momento que se vive no clube do meu coração e do qual sou associado há 25 anos, causa-me desconforto e profunda tristeza. Imaginem um país mergulhado numa guerra civil. É assim que vive o Sporting desde o momento em que o anterior Presidente decidiu convocar uma Assembleia Geral e pedir 75% de apoio para alterar os Estatutos, o regulamento disciplinar e pasme-se, sufragar a continuidade dos órgãos sociais por si presididos, um ano após ter sido eleito com uma maioria de 86% dos associados nos quais me inclui na altura.

Sim, votei em Bruno de Carvalho, em Março de 2017, após um primeiro mandato excelente. Contribui para a Missão Pavilhão, subscrevi obrigações, vibrei com o dinamismo e galvanização que trouxe ao Sporting. Dei sempre o meu possível apoio independentemente de me rever na direção e presidência do Clube, mas confesso que fui um entusiasta do dinamismo e vitalidade que se viveu no primeiro mandato de Bruno de Carvalho. Não me enganei quando lhe dei o meu voto. Subscrevi um primeiro mandato que me pareceu ir no caminho certo. Um ano depois, quando foi convocada essa Assembleia com a qual não concordei (quem tem faro político vê estas coisas mais depressa) comecei a ver que o comandante do navio leonino navegava em sentido contrário aquele que os Sportinguistas supostamente tinham avalizado na sua eleição e que a rota poderia ser o abismo.

De facto, a sociologia política terá que estudar o seguinte fenómeno. Não há na história eleitoral quem tenha sido eleito com 86% de votos e menos de um ano depois, tenha pedido uma revalidação desse sufrágio por mais de 75% de votos e volvidos 4 meses, tenha sido destituído com 71% de votos.

As instituições como o Sporting permanecem no tempo, atravessam gerações, séculos, ultrapassam-nos com a sua imponência e ao mesmo tempo são a expressão do contributo de todos aqueles que as foram construindo.
São demasiado grandes para que a ação do homem as condicione no tempo. Por isso, o Sporting, sobreviveu este último ano a um autêntico e constante massacre, fruto da guerra civil em que se encontra. Quando existem Sportinguistas a rejubilar com os fracassos do clube e a entristecer com os seus sucessos, estamos perante um caso de esquizofrenia social dentro da instituição.

Infelizmente chegamos a uma situação delicada e muito perturbadora. O clube poderá ficar ingovernável porque o caos será consecutivamente lançado nas Assembleias Gerais. Os sócios tenderão a não ir, porque não estão para se sujeitar a enxovalhos e insultos, sempre que a sua opinião for contrária a um grupo de adeptos organizado e que tenderá a continuar a sua ação, independentemente do resultado da última Assembleia Geral.

Sobre este acontecimento sempre triste na vida de qualquer instituição (expulsão de associados) estou convicto de que Bruno de Carvalho foi vítima da ação dos seus apoiantes. Muito sócio votou a destituição, mas considerava a sanção de expulsão exagerada. Uma pena de suspensão por um período mais vasto, seria suficiente (se é que o estatuto disciplinar que o próprio Bruno de Carvalho fez aprovar perspetiva tal situação). Contudo o massacre a que o Sporting foi submetido por parte desses adeptos que confundem o clube com o homem e o homem com o clube, levou muita gente a perder definitivamente a paciência e a votar contra a revogação da pena aplicada.

Hoje faria anos João Rocha, recordado como o “eterno presidente”, aquele que serviu o Sporting sem se servir. Aquele que elevou os valores dos fundadores do Clube e que nunca se colocou à frente do Sporting. Sendo verdade que os homens passam e as instituições ficam, acredito que o Sporting precisa hoje mais do que nunca de um líder com o perfil de João Rocha, adaptado aos tempos atuais, porque só uma pessoa com esta honorabilidade, determinação e capacidade pacificar a família leonina e ultrapassar este momento tenebroso sem fim à vista. Até lá, o Sporting, será grande o suficiente, para resistir a tudo e a todos.

O Sporting não é nosso. Nós é que somos do Sporting.

Viva o Sporting.