O momento que se
vive no clube do meu coração e do qual sou associado há 25 anos, causa-me
desconforto e profunda tristeza. Imaginem um país mergulhado numa guerra civil.
É assim que vive o Sporting desde o momento em que o anterior Presidente
decidiu convocar uma Assembleia Geral e pedir 75% de apoio para alterar os
Estatutos, o regulamento disciplinar e pasme-se, sufragar a continuidade dos órgãos
sociais por si presididos, um ano após ter sido eleito com uma maioria de 86%
dos associados nos quais me inclui na altura.
Sim, votei em Bruno
de Carvalho, em Março de 2017, após um primeiro mandato excelente. Contribui
para a Missão Pavilhão, subscrevi obrigações, vibrei com o dinamismo e
galvanização que trouxe ao Sporting. Dei sempre o meu possível apoio
independentemente de me rever na direção e presidência do Clube, mas confesso
que fui um entusiasta do dinamismo e vitalidade que se viveu no primeiro
mandato de Bruno de Carvalho. Não me enganei quando lhe dei o meu voto.
Subscrevi um primeiro mandato que me pareceu ir no caminho certo. Um ano
depois, quando foi convocada essa Assembleia com a qual não concordei (quem tem
faro político vê estas coisas mais depressa) comecei a ver que o comandante do
navio leonino navegava em sentido contrário aquele que os Sportinguistas supostamente
tinham avalizado na sua eleição e que a rota poderia ser o abismo.
De facto, a sociologia
política terá que estudar o seguinte fenómeno. Não há na história eleitoral
quem tenha sido eleito com 86% de votos e menos de um ano depois, tenha pedido
uma revalidação desse sufrágio por mais de 75% de votos e volvidos 4 meses, tenha
sido destituído com 71% de votos.
As instituições como
o Sporting permanecem no tempo, atravessam gerações, séculos, ultrapassam-nos
com a sua imponência e ao mesmo tempo são a expressão do contributo de todos aqueles
que as foram construindo.
São demasiado
grandes para que a ação do homem as condicione no tempo. Por isso, o Sporting, sobreviveu
este último ano a um autêntico e constante massacre, fruto da guerra civil em
que se encontra. Quando existem Sportinguistas a rejubilar com os fracassos do
clube e a entristecer com os seus sucessos, estamos perante um caso de
esquizofrenia social dentro da instituição.
Infelizmente chegamos
a uma situação delicada e muito perturbadora. O clube poderá ficar ingovernável
porque o caos será consecutivamente lançado nas Assembleias Gerais. Os sócios
tenderão a não ir, porque não estão para se sujeitar a enxovalhos e insultos,
sempre que a sua opinião for contrária a um grupo de adeptos organizado e que
tenderá a continuar a sua ação, independentemente do resultado da última
Assembleia Geral.
Sobre este acontecimento
sempre triste na vida de qualquer instituição (expulsão de associados) estou
convicto de que Bruno de Carvalho foi vítima da ação dos seus apoiantes. Muito
sócio votou a destituição, mas considerava a sanção de expulsão exagerada. Uma
pena de suspensão por um período mais vasto, seria suficiente (se é que o
estatuto disciplinar que o próprio Bruno de Carvalho fez aprovar perspetiva tal
situação). Contudo o massacre a que o Sporting foi submetido por parte desses
adeptos que confundem o clube com o homem e o homem com o clube, levou muita
gente a perder definitivamente a paciência e a votar contra a revogação da pena
aplicada.
Hoje faria anos
João Rocha, recordado como o “eterno presidente”, aquele que serviu o Sporting
sem se servir. Aquele que elevou os valores dos fundadores do Clube e que nunca
se colocou à frente do Sporting. Sendo verdade que os homens passam e as
instituições ficam, acredito que o Sporting precisa hoje mais do que nunca de
um líder com o perfil de João Rocha, adaptado aos tempos atuais, porque só uma
pessoa com esta honorabilidade, determinação e capacidade pacificar a família leonina
e ultrapassar este momento tenebroso sem fim à vista. Até lá, o Sporting, será
grande o suficiente, para resistir a tudo e a todos.
O Sporting não é
nosso. Nós é que somos do Sporting.
Viva o Sporting.