terça-feira, 11 de novembro de 2014

Aproximar ou adiar?

A estratégia para a reorganização dos Serviços de Atendimento da Administração Pública começou a ser finalmente implementada no terreno. Numa primeira fase, o programa irá arrancar em 4 regiões piloto, sendo uma delas a Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega, facto que motiva este artigo.

Os objectivos desta reorganização visam a aproximar a Administração dos cidadãos, melhorar a qualidade e eficácia dos Serviços e racionalizar a utilização dos recursos públicos.

Vamos focar a nossa atenção na racionalização da utilização dos recursos públicos, considerando que todas as medidas no âmbito da designada reforma do Estado e da Administração Pública que este Governo tem colocado em prática, visam fundamentalmente o emagrecimento do Estado e não propriamente a obtenção de níveis de eficiência quantitativos e qualitativos ao nível da prestação dos serviços públicos, oriundos de uma verdadeira reforma do Estado e da Administração em sentido material e orgânico.

Enquanto a Troika por cá andou a ajudar o Governo a colocar em prática o seu programa político, caracterizado essencialmente por um espírito ideológico que se fundamenta globalmente pelo afastamento da presença do Estado na economia e na sociedade, assistimos a uma série de episódios caricatos relativamente à constantemente apregoada Reforma do Estado e da Administração Pública, pormenorizada aqui e ali sem qualquer estratégia política e apenas com o objectivo específico de cortar, emagrecer, diminuir, custe o que custar, para que a economia e a sociedade se libertem do monstro.

Os resultados estão à vista. Na justiça, estamos em estado de “citius”. Na educação, seis semanas após ter iniciado o ano lectivo, há ainda milhares de alunos sem professores colocados. Estima-se que meio milhar de cidadãos desempregados, não tenha direito a qualquer subsídio e apoio do Estado. Também o número de casais desempregados duplicou. A Ministra da Agricultura desapareceu. O despovoamento do interior continua a galopar. Estima-se que tenham saído do país cerca de trezentas mil pessoas nos últimos 3 anos. O desemprego diminuiu, mas continua alto, se tivermos em conta a premissa anterior. Certas autarquias não têm qualquer estratégia de desenvolvimento, gastando recursos em arraias populares e iniciativas lúdicas que podem entreter o povo no presente mas cada vez mais condenarão o futuro dos seus Concelhos, precisamente pela falta de estratégia. Podia continuar a exemplificar o estado em que nos encontramos, mas concluo, dizendo apenas que um dos grandes problemas está ainda hoje por resolver. Refiro-me à dívida pública, que cresceu cerca de 28% nos anos em que a Troika abancou no Terreiro do Paço.

O país parece estar suspenso, deprimido e adiado, até às eleições. E o Governo vai certamente governar em lume brando, com a tesoura pouco afiada, durante este ano.

Voltemos à reorganização dos Serviços Públicos de Atendimento. Esta reorganização caracteriza-se por instalar em cada Concelho, uma loja do cidadão, que contará também com uma rede complementar de serviços digitais em espaços do cidadão, a implementar por todo o país. Aparentemente, esta reestruturação permitirá a racionalização dos serviços e poderá promover mais eficácia e eficiência na prestação dos serviços públicos. Vários serviços poderão passar a ser disponibilizados aos Munícipes, evitando a deslocação das pessoas a Concelhos limítrofes ou à sede de Distrito para tratar de certos documentos.

Tomemos como exemplo o Concelho de Valpaços. Recentemente a Câmara Municipal assinou um protocolo no âmbito desta reestruturação, onde se prevê a instalação de três espaços do cidadão, um em Valpaços, outro em Vilarandelo e ainda outro em Carrazedo de Montenegro. Contudo, fica a dúvida, quanto ao que se vai passar concretamente em Valpaços. A ideia do Governo, caracteriza-se pela concepção de um novo modelo de serviços públicos, concentrando nas Lojas do Cidadão que irá criar em cada Concelho, os vários serviços públicos existentes e dispersos nas sedes de Concelho, contendo assim custos com arrendamentos, serviços de limpeza, entre outros. Desta forma, atinge o terceiro objectivo desta reestruturação, ou seja, racionalizar a utilização dos recursos públicos. Contudo, ao que parece, no caso de Valpaços, vão ser implementados três espaços do cidadão, na sua concepção mais básica, mantendo-se o resto como está. Ou seja, os serviços públicos existentes, instalados em imóveis alugados, assim continuarão. Não é isto que está previsto na resolução do Conselho de Ministros e de certa forma, manter-se tudo como está, contraria a génese desta reestruturação dos serviços públicos de atendimento ao cidadão.

A forma que o Governo encontrou para evitar o encerramento dos serviços de finanças e com isso imenso barulho em ano de eleições, parece uma solução óptima, mas quando a esmola é grande, o santo desconfia. Porque não abrir uma loja do cidadão a sério que concentrasse os vários serviços públicos e dispersos, conforme está concebido no modelo apresentado pelo Governo? Será que vamos ter lojas do cidadão a sério, em Concelhos como Chaves e espaços do cidadão, na sua concepção mais básica, em Concelhos como Valpaços? Tal como a Reforma do Estado, esta reestruturação, que aliás, deveria resultar dessa Reforma do Estado, irá ficar adiada. Até lá, a palavra de ordem é abrir e não encerrar, nem, pelos vistos, concentrar. O próximo Governo, que feche a porta.