Estou a tentar imaginar um alemão a jogar à bola na rua, descalço ou com
umas sapatilhas meio rotas, num qualquer bairro de Munique, mas não consigo. Quando
olho para um futebolista alemão, vejo uma máquina, preparada para aquilo. É diferente
de um brasileiro, argentino, africano ou latino, os que jogando ou não com o pé descalço, começam o caminho na rua do bairro.
Seja como for, admiro a selecção Alemã. Neste mundial, passei mesmo a ter uma
certa deferência pela sua imposição natural de poder. Possuidores de um porte físico
invejável e de uma disciplina táctica irrepreensível, vejo esta selecção alemã
preparada para resistir e sobreviver a qualquer contratempo, porque o seu único
objectivo é, vencer. São de um profissionalismo invejável.
É claro que enquanto apaixonado pela fantasia e pela emoção que o futebol
proporciona, tendo a gostar mais dos que aprenderam a jogar com o pé descalço. A frieza
e a racionalidade que a componente técnica e táctica passou a impor ao jogo, tornam-se indispensáveis, mas retiraram-lhe brilho, pureza e fantasia. Quem consegue
equilibrar o misto, entre razão e coração, leva sempre a melhor, tanto na bola, como
na vida.
Nesta final da campeonato do mundo, disputada num pais imenso, numa cidade
cheia de charme e beleza natural, onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes eternizaram
a garota de ipanema, o samba, o poema e a fantasia da vida, vou torcer para que
a consistência alemã consiga ludibriar o tango argentino, musica que também me
fascina, mas que nesta selecção, não encarna o espírito do verdadeiro Piazzolla, precisamente porque o cinismo do seu futebol se sobrepõe à magia e pureza do verdadeiro tango.
Como não suporto cínicos, que vença a autenticidade dos Alemães!
Como não suporto cínicos, que vença a autenticidade dos Alemães!