
Faz agora cerca de dois anos, que em Vila Nova de Cerveira, a Comunidade Intermunicipal do Minho-Lima, promoveu ao longo de 15 dias uma iniciativa designada “Alto Minho: Desafio 2020”. A ideia centrou-se na reflexão sobre a estratégia de desenvolvimento da região Minho, no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, cujo horizonte está ai à porta.
Dois anos depois, nos Concelhos
do Alto Tâmega, promovem-se debates públicos, na tentativa de envolver a
população na participação de uma estratégia de desenvolvimento comum, de acordo
com a visão dos principais actores da recém-formada Comunidade Intermunicipal do
Alto Tâmega (CIM-AT).
Foi o que aconteceu no Concelho
de Valpaços, no passado dia 23 de Abril, onde esteve em debate o Plano Estratégico
de Desenvolvimento Intermunicipal com as orientações estratégicas 2014 – 2020,
no auditório do pavilhão multiusos, iniciativa promovida pelo Município em
parceria com a (CIM-AT).
Não sei se esta iniciativa vem
com algum atraso ou não. Contudo, a porta do cofre de Bruxelas, está quase a
abrir-se e nós por cá, ainda estamos a debater o que vamos fazer com os milhões
que vamos tentar lá ir buscar.
Não ignoremos a manta de retalhos
em que o país está transformado, quanto à geografia administrativa e burocrática
na gestão dos fundos comunitários. Divide-se para reinar, em detrimento de um
poder regional devidamente instituído e legitimado pelo voto.
A desagregação da Comunidade
Intermunicipal de Trás-os-Montes, talvez explique o atraso, o porquê de só agora
se começar a desenvolver um plano estratégico de base intermunicipal, capaz de
se constituir como a bússola orientadora da rota que importa agora seguir.
Durante mais de uma vintena de
anos, percorridos os 3 quadros comunitários, as prioridades dos autarcas pareceram
quase sempre incidir no mesmo. Dotar os municípios, cada um por si, sem
qualquer planeamento integrado, de infraestruturas públicas e colectivas, da
educação, à saúde, à rede viária municipal, aos centros de dia, aos pavilhões
multiusos, às capelas mortuárias, entre outras.
Os dinheiros da Europa, serviram
para tudo um pouco. Faltou planeamento, porque não houve estratégia. Nem
estratégia, nem visão. Há medida que o sector da construção ia sendo alimentado
por este pacote de obras públicas que foi ocorrendo um pouco por todos os
Municípios, a região transmontana foi-se desertificando dia após dia.
Olhando para o fenómeno do "êxodo rural" como um
facto natural, os governantes da região, continuaram a construir as suas “SimCity”, esquecendo que anos mais
tarde seria complexo para as finanças públicas locais, assegurar a conservação
e manutenção dos equipamentos que entretanto foram construídos, com cada vez menos população activa.
Olhemos, para um ou dois exemplos, no meu Concelho, Valpaços.
Olhemos, para um ou dois exemplos, no meu Concelho, Valpaços.
Precisávamos de um pavilhão
multiusos?
Evidentemente que sim. Contudo,
não precisávamos de um pavilhão multiusos, com um auditório onde não é possível
realizar nenhum espectáculo cultural ou musical, simplesmente, porque o palco
não tem dimensão suficiente para que isso aconteça.
Quer dizer, construam-se
equipamentos, mas planeie-se a longo prazo, com alguma visão. Repare-se
que não temos em Valpaços, uma sala de espectáculos, onde a Orquestra do Norte
possa dar um concerto, embora existam quatro ou cinco auditórios.
Neste momento, na minha terra, já se fala em construir outro pavilhão multiusos!!! Parece que ainda não perceberam, que o tempo da formação bruta de capital fixo, ou seja, este tipo de investimentos, não são neste momento uma via para o desenvolvimento, muito menos estancam o maior problema que enfrentamos, a desertificação humana provocada pela imigração em massa verificada antes do 25 de Abril, que agora também se volta observar, paralelamente à deslocação da juventude para os grandes centros urbanos, normalmente para prosseguimento de estudos ou à procura de novas oportunidades de trabalho, não conseguindo a grande maioria, o desejado regresso à terra natal, por não encontrar trabalho, transformando-se tudo isto num ciclo vicioso.
Neste momento, na minha terra, já se fala em construir outro pavilhão multiusos!!! Parece que ainda não perceberam, que o tempo da formação bruta de capital fixo, ou seja, este tipo de investimentos, não são neste momento uma via para o desenvolvimento, muito menos estancam o maior problema que enfrentamos, a desertificação humana provocada pela imigração em massa verificada antes do 25 de Abril, que agora também se volta observar, paralelamente à deslocação da juventude para os grandes centros urbanos, normalmente para prosseguimento de estudos ou à procura de novas oportunidades de trabalho, não conseguindo a grande maioria, o desejado regresso à terra natal, por não encontrar trabalho, transformando-se tudo isto num ciclo vicioso.
O paradigma que agora está
finalmente a findar e foi financiado pelos anteriores quadros comunitários não
conseguiu estancar as designadas assimetrias regionais nem alavancar a região
através do aproveitamento das suas maiores potencialidades. Durante 25 anos, Portugal recebeu cerca de 9 milhões de euros por dia, segundo o Professor e Economista Augusto Mateus, mas a verdade é que, o pais continua assimétrico e desigual, crescendo a duas velocidades, devendo a responsabilidade disso ser partilhada entre a Administração Central e a Administração Local, ou seja, Governo e Autarquias.
Voltemos a Valpaços. É verdade que era necessário
dotar o Município de infraestruturas públicas e colectivas, mas não é menos
verdade que se exagerou na promoção dessas obras que fomentaram um crescimento
baseado única e exclusivamente em “betão” alimentando a economia local através
de um modelo que mais tarde ou mais cedo teria que esgotar. Já tive
oportunidade de referir que teria sido mais útil apostar na requalificação dos
bairros históricos da cidade, como são o bairro 1.º de Maio e o bairro do
Tambulhão em lugar de se construir de raiz um novo bairro social que agora
carece de manutenção e conservação, não apenas do parque habitacional, mas
também ao nível das redes públicas de saneamento, água e electricidade que se
construíram de raiz.
Por outro lado, esses bairros históricos, estão agora desertificados, com imóveis a necessitar urgentemente de serem requalificados e preservados. Fala-se hoje na requalificação e reabilitação urbana, devendo a aposta recair na requalificação das cidades e não em mais alargamento do perímetro urbano. O problema é quem vai habitar tanta casa e onde há hoje fundos para as requalificar.
Por outro lado, esses bairros históricos, estão agora desertificados, com imóveis a necessitar urgentemente de serem requalificados e preservados. Fala-se hoje na requalificação e reabilitação urbana, devendo a aposta recair na requalificação das cidades e não em mais alargamento do perímetro urbano. O problema é quem vai habitar tanta casa e onde há hoje fundos para as requalificar.
Também na Avenida dos Colmeais se
optou por fazer uma via rodoviária com 4 faixas de rodagem, quando duas faixas
chegavam perfeitamente e teriam-se evitado gastos desnecessários. E como foi tudo
em grande, os custos de manutenção no futuro, terão também a mesma dimensão do
exagero.
Eis-nos à porta do Programa "Portugal 2020", o
sucessor do Quadro de Referência Estratégica Nacional, o qual orienta a
participação nos fundos comunitários para quatro domínios chave: competitividade
e internacionalização, capital humano, inclusão social e emprego e
sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos.
O domínio da competitividade e
internacionalização, concentra mais de 40% dos fundos, tendo as pequenas e
médias empresas uma oportunidade de ouro para inovar, expandir a sua área de
negócio e requalificar o seu capital humano. Aliás, as PME terão uma verba
disponível, dotada em cerca de 6000 milhões de euros, quase o dobro do que o
anterior quadro comunitário disponibilizava.
É muito importante o
desenvolvimento de uma estrutura técnica, capaz de orientar e ajudar os
cidadãos, os empresários e investidores a formalizar as candidaturas aos fundos
disponíveis, tendo as autarquias locais um papel importante nesta matéria, ou
seja, uma responsabilidade acrescida na promoção das condições em que o acesso
aos próximos fundos europeus se vão promover.
É tempo de passar das palavras aos actos, planear e agir com responsabilidade e sobretudo com visão, colocando de lado o eleitoralismo bacoco motivado pela obra pública que todos gostam de inaugurar, dando lugar a um novo paradigma de desenvolvimento centrado em políticas públicas que contribuam para estancar a grave desertificação humana que se vive um pouco por todo o interior.
É tempo de passar das palavras aos actos, planear e agir com responsabilidade e sobretudo com visão, colocando de lado o eleitoralismo bacoco motivado pela obra pública que todos gostam de inaugurar, dando lugar a um novo paradigma de desenvolvimento centrado em políticas públicas que contribuam para estancar a grave desertificação humana que se vive um pouco por todo o interior.