Das eleições autárquicas realizadas no passado mês de Setembro há que tirar algumas ilações em linha de conta com algumas reflexões que tenho partilhado em artigos anteriores. Comecemos pela realidade dos números: o número de votos em branco e de votos nulos, duplicou relativamente ao acto eleitoral autárquico anterior. A abstenção cresceu cerca de 6,4 %, tendo votado menos de cinco milhões de eleitores inscritos. Outro dado que importa registar tem a ver com a pesada derrota sofrida por praticamente todos os políticos que decidiram contrariar o espírito e a natureza da equívoca lei de limitação de mandatos (à luz da minha interpretação pessoal e política) sendo os casos mais evidentes e mediáticos, os de Lisboa e Porto. Por fim, registar ainda o crescente número de candidaturas e movimentos independentes, sendo a sua maioria, dissidente dos próprios partidos políticos de origem e não propriamente um suplemento de cidadania e democracia participativa.
Dos primeiros dados, duplicação de votos em branco e nulos resulta um evidente sinal de protesto. Protesto para com o estado geral da política, do país, do sistema político que tarda em reformar-se, da República. O crescimento da abstenção põe a nu esse sinal de protesto e o crescente afastamento do cidadão relativamente à política e suas instituições. Sendo o poder local, o nível de poder mais próximo do cidadão, seria de esperar uma participação mais consentânea com essa realidade, mas a verdade é que os índices de participação na vida política das comunidades são cada vez menores, reflectindo-se isso, no próprio acto eleitoral. Da derrota sofrida pelos chamados “dinossauros autárquicos” quem deve tirar as devidas ilações, são os partidos políticos e os próprios candidatos. Preferindo apresentar ao eleitorado as mesmas e velhas soluções de sempre em lugar de serem os primeiros a dar uma pedrada no charco e promoverem a renovação e regeneração de pessoas, os partidos políticos são os verdadeiros derrotados, por terem apostado nas figuras de sempre, na sua maioria, fortemente derrotadas nas urnas. Tomemos como exemplo, o que se passou em Matosinhos e no Porto. Em Matosinhos, o PS, lidera a autarquia desde sempre. São conhecidas as guerras da poderosa estrutura local dos socialistas. Ninguém esquece a candidatura independente do histórico Narciso Miranda no ano de 2009. Estranhamente, o PS em lugar de recandidatar o actual Presidente de Câmara, Guilherme Pinto para um último mandato, cuja obra em várias áreas da gestão pública municipal é conhecida, decidiu candidatar o Presidente da sua estrutura concelhia, António Parada, após um processo pouco pacífico de guerrilha interna no seio do partido local. O resultado está à vista. O povo, respondeu em massa e decidiu penalizar fortemente o Partido e ao mesmo tempo enaltecer o movimento independente (dissidente do PS) que se organizou e uniu em torno de Guilherme Pinto, vencendo novamente as eleições com maioria absoluta. O grande derrotado em Matosinhos, foi portanto, António Parada e a estrutura do PS local, mas também a estrutura distrital e nacional do partido, responsáveis também por tão incompreensível estratégia.
A grande e verdadeira lição que importa reter, veio do Porto. Há uns meses atrás, quando Luís Filipe Meneses decide passar a ponte, com o beneplácito partidário, contrariando a polémica e equivoca lei da limitação de mandatos autárquicos seriam poucos os que não anteviam uma folgada vitoria para o social-democrata. A verdade é que o movimento independente liderado pelo Presidente da Associação Comercial do Porto, apresentou-se ao eleitorado livre do espartilho que o aparelhismo partidário fomenta neste tipo de candidaturas protagonizadas pelos “dinossauros autárquicos”, ainda que nele tenham participado várias personagens oriundas da família política de Meneses. Afirmando um projecto cujo slogan “o nosso partido é o Porto” ilustra bem a estratégia da candidatura, descolando da lógica partidária tão abominada pelo eleitorado e ao mesmo tempo fomentando no eleitor a ideia de que o Município continuará a estar acima de todo e qualquer interesse, os Portuenses captaram bem a mensagem penalizando fortemente a travessia da ponte protagonizada por Meneses.
Da lição do Porto e das restantes considerações que resultam destas autárquicas, impõem-se algumas questões: estarão os partidos políticos, nomeadamente os partidos do regime (com assento parlamentar), em condições de entender todas estas mensagens e sinais? E se as entenderam, vão ignora-las e continuar o caminho que promove o afastamento entre eleitos e eleitores até à ruptura definitiva ou por outro lado vão arrepiar caminho e promover verdadeiras medidas, como a reforma do sistema político local e nacional, que invertam a tendência de descrédito a que as nossas instituições e a vida política no geral está a chegar?
Avaliando estas questões pelas declarações dos responsáveis distritais do PS Porto, após selado o acordo de governação municipal entre o movimento vencedor de Rui Moreira e os socialistas liderados por Manuel Pizarro, conclui-se que não. Ouvindo posteriormente as declarações do Presidente da Câmara de Lisboa, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos autárquicos Portuenses, conclui-se que sim. Daqui resulta que no Porto, nem todos perceberam a lição que o Porto deu. Lá chegará o dia.
Dos primeiros dados, duplicação de votos em branco e nulos resulta um evidente sinal de protesto. Protesto para com o estado geral da política, do país, do sistema político que tarda em reformar-se, da República. O crescimento da abstenção põe a nu esse sinal de protesto e o crescente afastamento do cidadão relativamente à política e suas instituições. Sendo o poder local, o nível de poder mais próximo do cidadão, seria de esperar uma participação mais consentânea com essa realidade, mas a verdade é que os índices de participação na vida política das comunidades são cada vez menores, reflectindo-se isso, no próprio acto eleitoral. Da derrota sofrida pelos chamados “dinossauros autárquicos” quem deve tirar as devidas ilações, são os partidos políticos e os próprios candidatos. Preferindo apresentar ao eleitorado as mesmas e velhas soluções de sempre em lugar de serem os primeiros a dar uma pedrada no charco e promoverem a renovação e regeneração de pessoas, os partidos políticos são os verdadeiros derrotados, por terem apostado nas figuras de sempre, na sua maioria, fortemente derrotadas nas urnas. Tomemos como exemplo, o que se passou em Matosinhos e no Porto. Em Matosinhos, o PS, lidera a autarquia desde sempre. São conhecidas as guerras da poderosa estrutura local dos socialistas. Ninguém esquece a candidatura independente do histórico Narciso Miranda no ano de 2009. Estranhamente, o PS em lugar de recandidatar o actual Presidente de Câmara, Guilherme Pinto para um último mandato, cuja obra em várias áreas da gestão pública municipal é conhecida, decidiu candidatar o Presidente da sua estrutura concelhia, António Parada, após um processo pouco pacífico de guerrilha interna no seio do partido local. O resultado está à vista. O povo, respondeu em massa e decidiu penalizar fortemente o Partido e ao mesmo tempo enaltecer o movimento independente (dissidente do PS) que se organizou e uniu em torno de Guilherme Pinto, vencendo novamente as eleições com maioria absoluta. O grande derrotado em Matosinhos, foi portanto, António Parada e a estrutura do PS local, mas também a estrutura distrital e nacional do partido, responsáveis também por tão incompreensível estratégia.
A grande e verdadeira lição que importa reter, veio do Porto. Há uns meses atrás, quando Luís Filipe Meneses decide passar a ponte, com o beneplácito partidário, contrariando a polémica e equivoca lei da limitação de mandatos autárquicos seriam poucos os que não anteviam uma folgada vitoria para o social-democrata. A verdade é que o movimento independente liderado pelo Presidente da Associação Comercial do Porto, apresentou-se ao eleitorado livre do espartilho que o aparelhismo partidário fomenta neste tipo de candidaturas protagonizadas pelos “dinossauros autárquicos”, ainda que nele tenham participado várias personagens oriundas da família política de Meneses. Afirmando um projecto cujo slogan “o nosso partido é o Porto” ilustra bem a estratégia da candidatura, descolando da lógica partidária tão abominada pelo eleitorado e ao mesmo tempo fomentando no eleitor a ideia de que o Município continuará a estar acima de todo e qualquer interesse, os Portuenses captaram bem a mensagem penalizando fortemente a travessia da ponte protagonizada por Meneses.
Da lição do Porto e das restantes considerações que resultam destas autárquicas, impõem-se algumas questões: estarão os partidos políticos, nomeadamente os partidos do regime (com assento parlamentar), em condições de entender todas estas mensagens e sinais? E se as entenderam, vão ignora-las e continuar o caminho que promove o afastamento entre eleitos e eleitores até à ruptura definitiva ou por outro lado vão arrepiar caminho e promover verdadeiras medidas, como a reforma do sistema político local e nacional, que invertam a tendência de descrédito a que as nossas instituições e a vida política no geral está a chegar?
Avaliando estas questões pelas declarações dos responsáveis distritais do PS Porto, após selado o acordo de governação municipal entre o movimento vencedor de Rui Moreira e os socialistas liderados por Manuel Pizarro, conclui-se que não. Ouvindo posteriormente as declarações do Presidente da Câmara de Lisboa, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos autárquicos Portuenses, conclui-se que sim. Daqui resulta que no Porto, nem todos perceberam a lição que o Porto deu. Lá chegará o dia.