Terminou dia 5 de Agosto, o prazo para apresentação das candidaturas às autarquias locais, cuja eleição se realiza no final do mês de Setembro. Até esta altura viveu-se um autêntico frenesim político no seio das candidaturas e das estruturas partidárias. Fizeram-se e desfizeram-se listas, prometeu-se aquilo que não se sabe se poderá ser cumprido, avançou-se e recuou-se. Para uns a palavra vale mais do que tudo, para outros, nem tanto assim.
Estas eleições autárquicas são importantes. Acontecem num momento crucial para o país. Já escrevi sobre a sua importância, noutros artigos anteriores. Estamos a viver uma crise de regime. Mais do que uma crise económica e financeira, vivemos sobretudo uma crise de regime. As instituições parecem desprovidas de personalidade, princípios e valores. Os pilares que as sustentam, estão feridos. Há uma descrença colectiva, nas instituições, nos políticos, na política em geral. Os largos das aldeias, as praças das vilas e das cidades, não se enchem como outrora para ouvir a mensagem de quem quer governar o bem comum. As pessoas refugiam-se no seu silêncio, escondem-se, afastam-se, pouco ou nada participam. Não há memória de uma descrença tão forte e evidente na política, no regime, na democracia, enquanto sistema político, enquanto forma de governo, “a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos” como disse sabiamente Sir Winston Churchill, em meados do século passado.
Tudo isto nos deve fazer reflectir. Um regime com as suas instituições desacreditadas e com governantes desacreditados pode ruir a qualquer momento. A soberania reside no povo, que escolhe e legitima através do voto. O povo está farto de escolher de tempos em tempos os seus representantes, parecendo continuar tudo na mesma, independentemente da mudança que essa escolha promoveu na governação. O regime está viciado, obtuso, ensimesmado. A razão de níveis de abstenção tão elevados nos actos eleitorais, evidenciam isso mesmo. O povo está cansado de decidir aquilo que parece estar sempre decidido, porque a alternância democrática nos tempos que correm parece que deixou de produzir o efeito desejado por quem quer e decide mudar. A sua decisão, a eficácia do voto, perdeu fulgor, mas não pode perder a razão de ser, porque isso significaria a subalternização da soberania democrática a outros interesses que não os da governação da comunidade, do bem comum, do interesse geral.
O regime está viciado, porque os negócios dominam a política. Dominam as instituições do regime. Poderão até dominar o voto do povo e de certa forma a soberania popular. Mesmo não o dominando, reina a ideia de que o voto de nada vale, porque tudo continuará na mesma, porque “os políticos são todos iguais.”
Nem os negócios têm que dominar a política, nem esta tem que dominar os negócios. É urgente credibilizar o regime democrático e as suas instituições. Elevar as virtudes da democracia. A política é a arte da governação da sociedade. Uma pauta mal interpretada tem responsáveis. O músico e/ou o maestro. A má governação, também tem responsáveis. Os políticos, especialmente os que se deixam dominar pelos negócios e com isso permitem a subalternização e degradação do regime democrático.
É importante que os homens e mulheres que honrosa e altruisticamente se predispõem a governar as suas comunidades tenham presente que a saúde do regime depende muito da sua acção e conduta enquanto políticos.