No meio do turbilhão da crise, o
Presidente da República, decidiu lançar um repto aos Partidos que assinaram o
Memorando com Troika, solicitando-lhes uma espécie de compromisso de Estado até
o programa de assistência financeira terminar, antecipando as eleições para
esse período, ou seja, sensivelmente daqui a um ano.
Cavaco, parece ser o único a querer ficar
bem na fotografia da crise política. O problema é que o Presidente tem tido um
comportamento pouco coerente ao longo de todo este processo. Os discursos
proferidos na sua tomada de posse em 2011 e no 25 de Abril do corrente ano, são
um bom exemplo do comportamento pouco coerente do Presidente. Cavaco, acusou
Sócrates de traição. Não consigo imaginar o que será escrito no prefácio dos
próximos “Roteiros presidenciais”, sobre este Governo, que “obrigou” o
Presidente a dar posse a uma Ministra das Finanças, tendo-lhe dado conhecimento
uma hora antes da demissão do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, líder
de um dos partidos que suporta a coligação.
Quando Sócrates venceu as eleições de
2009, estávamos no epicentro da crise económica e financeira mundial. A
expressão mundial desta crise, estava bem patente ainda no horizonte do
ocidente, em particular na Europa. Infelizmente, em Portugal, os partidos agora
no poder, na altura na oposição, insistiam em culpar por todos os males da
nação, única e exclusivamente o Governo Português. Não havia crise mundial, não
faliram bancos, nada se passava. Parece que só se passou a falar em crise
financeira mundial a partir do momento que os Partidos agora no poder ganharam
as eleições. São estes comportamentos que acabam por afastar os Partidos,
impedindo a partilha de soluções e compromissos. São estas posturas que
promovem a picardia política e um clima de constante guerrilha. Como ontem
disse o Presidente, esta é a hora de responsabilidade. Fica expresso que até
aqui, vingou a irresponsabilidade.
O compromisso ontem lançado pelo
Presidente aos Partidos faria todo o sentido em 2009. Dir-me-ão que não havia
condições para isso com as lideranças partidárias da altura. E hoje, há
condições? A situação em 2009, já era muito grave. Estes quatro anos, arrasaram
ainda mais o país. A situação era grave em 2009, muito grave em 2011 e
muitíssimo grave em 2013. De resto, a irresponsabilidade de somar crises
políticas ao período negro que vivemos parece ser o que melhor sabem fazer os
políticos. Cavaco deveria ter promovido toda a sua magistratura presidencial em
2009, após eleições. Deveria pelo menos, tentá-lo. Sócrates, ainda lançou o
repto aos partidos, apenas, para inglês ver. O Presidente deveria ter insistido
em lugar de se esconder no seu próprio silêncio. Também em 2011, após chumbo do
PEC IV, deveria ter forçado um compromisso alargado, em lugar de abrir outra
crise política e empurrar o país para eleições. Como não o fez, de acto em
acto, Cavaco tem sido um Presidente incapaz de lidar com o momento político que
vivemos.
Finalmente, ontem, o Presidente, fez
aquilo que não fez nem em 2009, nem em 2011. Ao inviabilizar o “novo” Governo
que Passos Coelho lhe mostrou, Cavaco está a dizer a esta maioria, que não
acredita nem confia nas suas boas intenções e que não está para voltar a cobrir
as costas como tem acontecido ate aqui a quem não merece e não confia. Ao
antecipar a realização de eleições para 2014, findo o programa de assistência
financeira, está também a dizer ao PS, que eleições neste momento, não são
solução, tal como não foram em 2011. Contudo, promete realiza-las, ou
antecipa-las, logo que a Troika se vá embora definitivamente. Cavaco encostou
tudo e todos à parede. Está cansado de proteger a maioria e não quer ficar
também com o ónus de ter que ouvir o PS a acusá-lo de falta de isenção e
inépcia na gestão política dos vários episódios políticos que marcam o período
da crise que vivemos.
A solução presidencial, não propõe
propriamente um Governo de salvação nacional, mediante iniciativa presidencial.
Propõe uma solução que deriva do actual quadro parlamentar, ou seja, com os
actuais protagonistas políticos. Não é a solução preferida do Presidente, mas é
a que no momento, melhor servirá para levar o barco a bom porto, ou seja,
cumprir o programa de assistência financeira, até ao fim do prazo estipulado,
através do compromisso daqueles que o subscreveram e assinaram. Teremos assim,
uma espécie de Governo de gestão, com funções alargadas, até Junho do próximo
ano.