quinta-feira, 11 de julho de 2013

Confusão ou solução?

No meio do turbilhão da crise, o Presidente da República, decidiu lançar um repto aos Partidos que assinaram o Memorando com Troika, solicitando-lhes uma espécie de compromisso de Estado até o programa de assistência financeira terminar, antecipando as eleições para esse período, ou seja, sensivelmente daqui a um ano. 

Cavaco, parece ser o único a querer ficar bem na fotografia da crise política. O problema é que o Presidente tem tido um comportamento pouco coerente ao longo de todo este processo. Os discursos proferidos na sua tomada de posse em 2011 e no 25 de Abril do corrente ano, são um bom exemplo do comportamento pouco coerente do Presidente. Cavaco, acusou Sócrates de traição. Não consigo imaginar o que será escrito no prefácio dos próximos “Roteiros presidenciais”, sobre este Governo, que “obrigou” o Presidente a dar posse a uma Ministra das Finanças, tendo-lhe dado conhecimento uma hora antes da demissão do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, líder de um dos partidos que suporta a coligação.  

Quando Sócrates venceu as eleições de 2009, estávamos no epicentro da crise económica e financeira mundial. A expressão mundial desta crise, estava bem patente ainda no horizonte do ocidente, em particular na Europa. Infelizmente, em Portugal, os partidos agora no poder, na altura na oposição, insistiam em culpar por todos os males da nação, única e exclusivamente o Governo Português. Não havia crise mundial, não faliram bancos, nada se passava. Parece que só se passou a falar em crise financeira mundial a partir do momento que os Partidos agora no poder ganharam as eleições. São estes comportamentos que acabam por afastar os Partidos, impedindo a partilha de soluções e compromissos. São estas posturas que promovem a picardia política e um clima de constante guerrilha. Como ontem disse o Presidente, esta é a hora de responsabilidade. Fica expresso que até aqui, vingou a irresponsabilidade.

O compromisso ontem lançado pelo Presidente aos Partidos faria todo o sentido em 2009. Dir-me-ão que não havia condições para isso com as lideranças partidárias da altura. E hoje, há condições? A situação em 2009, já era muito grave. Estes quatro anos, arrasaram ainda mais o país. A situação era grave em 2009, muito grave em 2011 e muitíssimo grave em 2013. De resto, a irresponsabilidade de somar crises políticas ao período negro que vivemos parece ser o que melhor sabem fazer os políticos. Cavaco deveria ter promovido toda a sua magistratura presidencial em 2009, após eleições. Deveria pelo menos, tentá-lo. Sócrates, ainda lançou o repto aos partidos, apenas, para inglês ver. O Presidente deveria ter insistido em lugar de se esconder no seu próprio silêncio. Também em 2011, após chumbo do PEC IV, deveria ter forçado um compromisso alargado, em lugar de abrir outra crise política e empurrar o país para eleições. Como não o fez, de acto em acto, Cavaco tem sido um Presidente incapaz de lidar com o momento político que vivemos.

Finalmente, ontem, o Presidente, fez aquilo que não fez nem em 2009, nem em 2011. Ao inviabilizar o “novo” Governo que Passos Coelho lhe mostrou, Cavaco está a dizer a esta maioria, que não acredita nem confia nas suas boas intenções e que não está para voltar a cobrir as costas como tem acontecido ate aqui a quem não merece e não confia. Ao antecipar a realização de eleições para 2014, findo o programa de assistência financeira, está também a dizer ao PS, que eleições neste momento, não são solução, tal como não foram em 2011. Contudo, promete realiza-las, ou antecipa-las, logo que a Troika se vá embora definitivamente. Cavaco encostou tudo e todos à parede. Está cansado de proteger a maioria e não quer ficar também com o ónus de ter que ouvir o PS a acusá-lo de falta de isenção e inépcia na gestão política dos vários episódios políticos que marcam o período da crise que vivemos.

A solução presidencial, não propõe propriamente um Governo de salvação nacional, mediante iniciativa presidencial. Propõe uma solução que deriva do actual quadro parlamentar, ou seja, com os actuais protagonistas políticos. Não é a solução preferida do Presidente, mas é a que no momento, melhor servirá para levar o barco a bom porto, ou seja, cumprir o programa de assistência financeira, até ao fim do prazo estipulado, através do compromisso daqueles que o subscreveram e assinaram. Teremos assim, uma espécie de Governo de gestão, com funções alargadas, até Junho do próximo ano.

Será isto possível?