Narrativas, Cavaco e os milagres!

Na semana em que Cavaco Silva confessou que a aprovação da 7.ª avaliação e revisão do memorando da Troika se deveu a um milagre de Nossa Senhora de Fátima, António Lobo Xavier, afirmou ontem, na quadratura do círculo, que a vinda da Troika e do seu famigerado plano de ajustamento, se devia aos Partidos Políticos agora no Governo, que enquanto oposição, nada fizeram para evitar um resgate indesejado em Portugal e na Europa, nomeadamente pela Chanceler Alemã.

A narrativa Socrática, parece ter conquistado um surpreendente aliado, uma vez que, a génese dessa narrativa assenta precisamente neste facto, como há poucos dias tivemos oportunidade de constatar na entrevista que o antigo primeiro-ministro concedeu à RTP.

Verdade, que a situação após as eleições de 2009, em Março de 2011 quando a oposição se juntou para derrubar o Governo e nos dias de hoje, apresenta diferenças, algumas para pior, mas no essencial, continua tudo igual e daqui apenas poderemos tirar uma conclusão: tudo está desconcertado, porque não há concertação. Concertação política e social, o primeiro passo, para sairmos do atoleiro. Não houve em 2009 quando Sócrates perdeu a maioria e nos encontrávamos no epicentro da crise internacional, não houve em 2011 quando a oposição forçou a queda do Governo, somando crise política à crise económica e financeira e não parece haver agora, quando o país contínua a caminhar a passos largos para o abismo.

Essa concertação política e social, não é mera retórica. Seria útil, que Cavaco entendesse, que o milagre da multiplicação dos pães, não está a acontecer nas famílias portuguesas. Sem um desígnio nacional, motivado por uma liderança forte e coesa, jamais se poderá por travão à actual narrativa troikana, ainda que hoje, diferentemente de ontem, várias vozes se comecem a levantar contra o desumano e errático Excel.

Aguardemos o milagre!