quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mercados

Portugal colocou ontem 2,5 mil milhões de euros no mercado da dívida, com juros inferiores a 2%. No dia anterior, também o Tesouro Espanhol tinha colocado 5,8 mil milhões em leilão, abaixo de 2%. Também a Itália fez no inicio da semana uma operação arriscada, colocando dívida a 30 anos, sendo a operação bem sucedida. O contágio positivo de que Draghi falava na semana passada, parece estar a acontecer. Os encargos da dívida estão também a baixar, não só em Portugal, mas também em Espanha, Itália e até na Grécia. 

O sucesso destes leilões tem uma primeira leitura inequívoca: os investidores estão confiantes e convictos de que Espanha não pedirá a curto prazo um resgate a Bruxelas e de que Portugal já não corre o risco de saída do Euro, estando em condições de regressar aos mercados, ainda este ano. O pior, parece ter passado.

É uma boa notícia para o país, no meio de tanto pesadelo que nos tem assombrado. Os custos de financiamento da dívida portuguesa estão mais baixos e um regresso aos mercados significa desde logo que o acesso ao crédito será maior e mais facilitado. As empresas agradecem.

Se isto é bom para os 16,3% de Portugueses oficialmente desempregados, para os 55% destes que já nada recebem de subsídio de desemprego ou outra qualquer prestação social, para milhares que emigraram nos últimos dois anos, para os milhares de estudantes do ensino superior que deixaram de pagar propinas, para os milhares de crianças que passaram apenas a fazer as refeições escolares, para todos os que de uma forma ou de outra sentem os efeitos do furacão da crise, depende essencialmente da política e não propriamente dos mercados.

Na mensagem de Ano Novo, o Papa, condenou o "capitalismo desregrado", como uma ameaça à paz. É uma ameça à paz, à liberade, à cultura, ao homem e à civilização. Só a política pode travar esta crescente onda de desumanização, alavancada pela roda livre em que os mercados têm operado, aparentemente, com o beneplácito da política.