quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Primeira Voz


Ninguém consegue escrever o poema
captar a batida o ritmo a música inicial
cantar de dentro do epicentro
da palavra só lava
não mais que rio ardente
um fluxo de sangue
um batimento. Ou
vento. Apenas vento
no grande deserto da linguagem.
Miragem de miragem: breve
fria aragem
do fundo. Matemática do mundo
ainda só oiro e ferro e prata.
Ou puro magma. Talvez
a enigmática equação
de Deus.
Libélula inconcreta na cauda de um cometa
unícelula
na página do planeta
ainda só brancura de salgema.
E ninguém
sabe
quem
Nem de onde nem porquê nem quando esse poema.

Manuel Alegre