Entre janeiro e Outubro do corrente ano, foram investidos cerca de 910 milhões de euros na agricultura. As exportações estão a crescer e em média todos os meses entram no sector 240 novos jovens empresários. No ano de 2011, contrariamente ao recuo de 1,7% do produto interno bruto (PIB) a agricultura cresceu 2,8%, provando que o sector está em contraciclo relativamente à grande maioria dos sectores produtivos da economia portuguesa.
A crise apesar dos efeitos devastadores que tem provocado na sociedade portuguesa, pode também servir para abrir novas janelas de oportunidade em sectores normalmente menos apetecíveis a investidores e empreendedores. Por outro lado, não aproveitar o momento para corrigir opções erradas, também responsáveis pelos desequilíbrios económicos e sociais de que hoje padecemos, seria uma oportunidade perdida, além de contribuir para que o país continue mergulhado neste estado apático em que acabou por cair.
O que nos levou a esquecer e a desinvestir nesses sectores, absolutamente estratégicos e vitais para a economia nacional, seria tema para um fórum, certamente conclusivo de que nem tudo que veio da Europa foi bom para o desenvolvimento do país. A Europa contribuiu largamente para o desenvolvimento infraestrutural do nosso país. Construíram-se estradas, escolas, hospitais, pontes, bibliotecas, estações de tratamento de resíduos, águas e saneamento, um pouco de tudo e que de facto deu ao país outra cara. Contudo, as políticas de desincentivo em determinados sectores, como são o mar e a agricultura, onde na verdade reside grande parte do nosso potencial, tiveram efeitos perversos na nossa economia e sociedade, cujos resultados estão à vista de todos. Deixamo-nos embalar nesta canção, de subsidiar para não produzir ou nada fazer em determinadas áreas de produção e isso contribuiu largamente para o desinvestimento nesses sectores.
240 novos empresários em média, a aderir ao sector agrícola todos os meses é revelador de que algo está a mudar. É sobretudo uma resposta à crise que provocará paulatinamente uma mudança de mentalidade, porque estes novos empresários trazem novas ideias, novas metodologias e uma vontade empreendedora que dará frutos e será vital para o desenvolvimento do país.
Portugal precisa de parar para pensar. Pode parecer que lhe falta tempo para o fazer, mas é crucial, que políticos, ambientalistas, urbanistas, demógrafos, sociólogos e economistas, olhem para a desertificação do país como um problema que se arrasta e precisa de ser atacado quanto antes, considerando os desequilíbrios humanos, ambientais, sociais e económicos que têm agravam as visíveis assimetrias regionais e cujos efeitos futuros poderão ser fatais para o equilíbrio sustentável do país, do ponto de vista territorial e humano.
A agricultura é um dos sectores onde está uma das saídas para a crise. No interior há futuro e residem muitas oportunidades. Autarcas, associações empresariais locais e regionais têm feito o que podem para contrariar o êxodo rural e toda a problemática que ele representa. Isso por si só, já se viu que não chega, nem resolve. Enquanto o Governo não ponderar o incremento de uma estratégia, concertada com vários sectores da sociedade, que promova de forma sustentada e a prazo o desenvolvimento de uma verdadeira política capaz de alavancar todo o potencial que reside no interior, o país continuará desequilibrado, com enormes e diversas desigualdades sociais e económicas, agravando também os seus problemas territoriais e ambientais.
O crescimento no sector agrícola em contraciclo com o PIB e a adesão de novos jovens empresários, podem despertar consciências, impulsionar o Governo, banca comercial e sociedade a olhar para o interior como uma janela de oportunidade para sair da crise, gerar riqueza e impedir o desequilíbrio futuro do país.