Os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes à conclusão dos Censos 2011, recentemente publicados, confirmam o agravamento da desertificação do interior do país na última década, concluindo que 50% da população reside em 33 dos 308 Municípios que compõem o território nacional, a maioria inserida nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Outros dados deste importante estudo censitário da população portuguesa são também preocupantes: o índice de envelhecimento cresceu 25,61%, significando isto que, por cada 100 jovens, existem 128 idosos. O índice de rejuvenescimento da população ativa diminuiu 78,71%, facto revelador de que por cada 100 pessoas que saem do mercado de trabalho, apenas entram 94, contrariamente ao que acontecia na década anterior, em que o número de pessoas que entrava no mercado de trabalho era superior ao número dos que saiam.
No que concerne ao Distrito de Vila Real, dos 14 Municípios que o compõem, apenas a capital de distrito viu a sua população crescer. O Distrito viu a sua população diminuir em 7,63% entre 2001 e 2011. Na zona geográfica do Alto Tâmega, constituída pelos Municípios de Boticas, Chaves, Montalegre, Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar e Valpaços, a população desceu 10,14% em 2011. Esta área geográfica representa 62% do decréscimo da população no Distrito de Vila Real.
Concluído este importante estudo censitário que caracteriza e retrata a população Portuguesa a vários níveis, a questão fundamental que se coloca é a de saber o que fazer para atenuar o cenário catastrofista há muito previsto, que colocará em causa a sustentabilidade social e económica do país nas próximas décadas.
Os censos, não podem continuar a ser apenas e só um importante instrumento de análise estatística das características da população. É necessário que economistas, demógrafos, urbanistas, mas sobretudo, políticos, observem e reflitam sobre a realidade retratada neste documento e seus possíveis efeitos no presente e no futuro.
O ano de 2011 foi o ano em que aconteceram menos nascimentos desde que há registos. As pessoas estão apreensivas e não veem luz ao fundo do túnel. Pelo contrário, as desigualdades sociais agravam-se, os incentivos à natalidade não produzem efeitos e a sustentabilidade geracional do país em termos económicos e sociais parece estar ameaçada.
A família está em queda, tal como a natalidade. Não há evolução económica e social, sem famílias estáveis. Não crescem crianças saudáveis, com valores, amor e estabilidade, ficando das 9 da manhã às 7 da noite em infantários, dia após dia.
O modelo nórdico, combina duas dimensões essenciais da sociedade e da economia, que são o emprego e a natalidade. O sistema público e o sistema privado articulam-se e complementam-se. O modelo funciona. Há tempo para a família. Ter tempo para a família não é dar mais um mês de licença ou mais um subsídio parental. Segundo Gunnar Andersson, demógrafa da Universidade de Estocolmo, são as mulheres que estão no mercado de trabalho que têm uma maior taxa de natalidade. Existem nesses países, politicas públicas que equilibram a vida profissional com a vida familiar e com o lazer.
Voltando ao interior do país, o quadro há muito que está traçado. As soluções continuam depositadas nos programas políticos e nos eloquentes discursos em época eleitoral. Contudo, as assimetrias regionais, a desertificação territorial, o envelhecimento da população, a queda da natalidade são realidades que se agravam ano após ano.
É urgente pensar o território e olhar para as oportunidades que interior do país oferece e potencia, especialmente, neste momento de crise. Promover a coesão territorial, passa por encurtar as assimetrias regionais que ainda subsistem no país. Deixar a desertificação do interior alastrar, não só provocará ainda mais dispêndio de recursos públicos como também desaproveitará a hipótese de alavancar o sector agrícola, florestal e ambiental, tão importante para a o equilíbrio do país, pela riqueza que gera.
Não refletir sobre o quadro demográfico apresentado nem procurar encontrar soluções que contribuam para inverter a situação retratada, é promover ainda mais o desequilíbrio social em que nos encontramos e isso significa, condenar o nosso futuro.