Depois de na semana passada termos sido brindados com um dos mais paupérrimos discursos políticos da história política portuguesa, vago de ideias e conteúdos, sem esperança nem alento, sem rumo nem arrojo, concentrado sobretudo numa realidade que está longe de existir, tendo mesmo sido anunciada (uma vez mais) o fim da crise, eis que, volvida uma semana, descemos à realidade nua e crua da nossa débil e insustentável situação económica, social e orçamental no que respeita a contas públicas.
Com as receitas fiscais em queda acentuada só um cego é que ainda não viu que a terapêutica até pode ser a correcta mas o receituário pecou pelo exagero. O "vamos além da Troika", deu este resultado. A dívida pública cresceu mais 10% num ano, o desemprego atingiu números nunca vistos, o défice público em % do PIB (7,9%) está longe dos 4,5% e no que respeita à despesa pública, é verdade que a mesma desce, mas é preciso ter em conta que desce em função dos cortes salariais e à custa dos subsídios dos funcionários (não de todos, pelos vistos), ou seja, à custa do dinheiro das pessoas, cujo efeito retractivo no consumo interno está à vista de todos.
Resumindo, já se percebeu, que Passos Coelho, até pode ser uma pessoa competente e séria, mas não passa de um tecnocrata que lidera um grupo de tecnocratas. Infelizmente, o que precisamos neste momento é de políticos. Não sabemos qual o pensamento político do Primeiro-Ministro sobre a Europa e que caminho político deve encetar, sobre o comportamento e função do Banco Central Europeu, limitando-se a abanar a cabeça ao que Berlim vai ditando. Passos não é o timoneiro de uma nau que anda há deriva há muitos anos e cujo massacre desse desvio se repercute sempre nos mesmos. Não admira que 70% dos jovens que acabam a sua formação queiram abandonar o país. Passos não está a conseguir mobilizar o país para o desafio titânico que tem pela frente e o Presidente da República não está a conseguir pactos nem a criar consensos políticos necessários a fazer as verdadeiras reformas estruturais e não apenas conjunturais que o país reclama há décadas.
Da oposição, pouco ou nada se vê. Definitivamente, não temos políticos à altura do desafio e do momento. Temos produtos elaborados nas “Jotas” que conhecem bem os corredores do poder mas muito mal os caminhos que o povo pisa.
O país está sem esperança e sem alento. Os timoneiros sem rumo. As certezas do Pontal dissolveram-se na água do aquashow e só a Troika que vem ai na próxima semana avaliar a desgraça nos poderá redefinir o rumo. O problema é que no leme continuarão tecnocratas e não políticos e isso a Troika não pode mudar. Pior do que isso, eleições antecipadas, só serviriam para substituir tecnocratas por tecnocratas.