quarta-feira, 6 de junho de 2012

Falemos de bola...


Enquanto Passos Coelho elogia a nossa “extrema paciência” e diz ter grande admiração pela atitude dos Portugueses em tempos de crise, falemos um pouco de bola, para fugir um pouco ao enfado da política portuguesa. De bola a sério, porque já não há pachorra para as costeletas do Sr. Hélio Loureiro, o responsável gastronómico da Selecção Nacional, os programas sobre a meninice de Paulo Bento a ajudar no restaurante do pai, a vida do Cristiano Ronaldo e dos restantes astros que finalmente aterraram na Polónia.

Não vou tão longe como Manuel José, que se referiu às actividades circenses destes últimos dias ainda em solo Português, mas para quem gosta de futebol e este se resume ao jogo nas quatro linhas, pouco ou nada importa o que comem os jogadores ou quem cortejam na ladys night Lisboeta.

Finalmente em Opalenica, cidade Polaca onde os Portugueses assentaram arraiais, com aquelas Polacas que trabalham no luxuoso Hotel, os níveis de concentração devem estar no auge.

Opalenica então para a bola. A Selecção tem dois problemas. Um é velho e vem de longe. O futebol português não produz um ponta-de-lança de top desde os tempos de Manuel Fernandes, Nené, Gomes ou Domingos Paciência, este mais recente. Portanto, a Selecção Nacional não tem um bom ponta-de-lança. O outro problema é a inexistência de um maestro, o n.º 10 da equipa, que actua numa zona do terreno fulcral nas ligações entre o meio campo e o ataque. Ele organiza, pensa e distribui o jogo. É uma função essencial em qualquer equipa. Tivemos o Rui Costa, depois veio o Deco e agora não temos nenhum. No 4-3-3 em que Paulo Bento aposta, falta no trio do meio campo o tal 10, porque Meireles e Moutinho não desempenham esse papel. Sobra Hugo Viana, como opção, mas duvido que bento lhe dê essa hipótese. A Selecção jogará sem n.º 10 e nesse sentido, concordo com Luís Filipe Meneses que hoje disse ao JN que esta Selecção está a anos-luz da Selecção de Figo e Rui Costa.

Ronaldo é um portento. Se não se lhe atravessasse Messi no caminho, Ronaldo já deveria ter umas 5 bolas de ouro. Assim tem que disputar com o astro Argentino o trofeu. Quem gosta de bola agradece, porque a competição entre ambos só os melhora. Ronaldo é de longe o melhor jogador Português de todos os tempos. Os números são incríveis, parece um robôt.

Os Portugueses esperam tudo de Ronaldo. Alias, exigem tudo dele. Já assim foi com Figo, no passado. Evidente que Ronaldo pode resolver um jogo num momento. Pode até resolver vários dos problemas da Selecção ou pelo menos disfarça-los. Mas uma Selecção vale essencialmente pelo colectivo e nesse sentido não se pode pedir tudo a Ronaldo.  

Seja como for, a bola vai começar a rolar. No campeonato dos mercados, a Senhora Merkel tem dado grandes cabazadas ao resto da Europa. Vamos ver se no campo da bola acontece o contrário. Não resolve, mas ajuda a aliviar o espirito dominado pelo fantasma da crise. A nossa paciência merece que assim seja.