sexta-feira, 1 de junho de 2012

Abutres sociais

O Governo decidiu empreender um programa denominado “Estímulo 2012” que contém um conjunto de medidas que visam “potenciar o retorno ao mercado de trabalho de desempregados com maiores dificuldades de inserção, capacitando-os com a formação e as competências adaptadas ao posto de trabalho e, simultaneamente, promover a melhoria da produtividade e competitividade das empresas.”

O objectivo passa por contrariar a tendência crescente de aumento do desemprego no país e ao mesmo tempo impedir a deserção de jovens qualificados, considerando que a taxa de desemprego jovem está a tornar-se insustentável.

Genericamente o projecto concentra-se em apoiar entidades empregadoras, que contratem cidadãos inscritos nos Centros de Emprego há pelo menos 6 meses consecutivos, proporcionando-lhes ainda formação profissional.

Algumas empresas, decidiram aproveitar este bónus para contratar jovens qualificados a preços de saldo.

As ofertas de emprego no portal Netemprego, nalguns casos, são verdadeiramente inqualificáveis. Um técnico de relações públicas licenciado, pelo salário mínimo nacional, 450 euros; um arquitecto, com mestrado, por 500 euros; médicos dentistas por 650 euros; engenheiros mecânicos que falem 3 línguas, por 700 euros, etc., etc., etc.

Deve enaltecer-se o programa apresentado pelo Governo para combater a chacina do desemprego. Deve também referir-se que apesar destes maus exemplos o balanço tem sido positivo. Desde Fevereiro, 1734 desempregados conseguiram voltar ao mercado de trabalho com o apoio do programa Estímulo 2012. O Governo pretende que o programa atinja 35 mil pessoas em situação de desemprego.

É verdadeiramente inaceitável e não merece apoio quem se aproveita do Estado, da situação do país e do desespero das pessoas.

As empresas que recorram a este programa para contratar colaboradores, apenas têm que pagar metade da remuneração do contratado durante os primeiros 6 meses. O Estado assegura a outra metade até um tecto máximo de 419,22 euros de apoio estatal.

No caso dos exemplos dados, o arquitecto contratado por 500 euros, custaria à entidade 250 euros mensais. O Estado aceita apoiar estes empresarios? Apoia empresas que contratam quadros qualificados por este valor? Permite que estas entidades ganhem vantagem competitiva sobre a concorrência mediante a redução dos seus custos laborais à custa do apoio do Estado?

Estas empresas deveriam ser denunciadas. A sociedade deveria conhecer quem são. O Estado, o mercado, todos nós, deveríamos rejeitar e condenar este comportamento pouco ético, esta mentalidade mesquinha e rasteira de quem quer ganhar dinheiro à pala dos nossos impostos.

Estes abutres sociais devem ser punidos no local próprio, o mercado.